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Spring Heel Jack Masses

2001
Thirsty Ear


Umas breves notas históricas introduzindo os Spring Heel Jack, uma dupla formada por John Coxon e Ashley Wales respectivamente produtor e compositor clássico que ao longo da sua carreira já percorreram diversos caminhos (breakbeat, d’n’b, dub e techno) mas que neste álbum rompem com o passado trazendo uma pesquisa sobre a interacção entre o Jazz e a Electrónica com a colaboração de improvisações de músicos ligados ao Jazz.

“Masses”, com inúmeras colaborações - Matthew Shipp (piano), Mat Maneri (violino), Tim Berne e Daniel Carter (saxofone), Guillermo Brown (bateria), Roy Campbell (trompete), entre outros - é o primeiro álbum da profícua “Blue Series” (ver nota no final). A ideia geral do álbum baseia-se na produção de Coxon e Wales de uma base, um pano de fundo sobre a qual os diversos colaboradores trabalham, improvisam, enfim exploram limites...produzindo uma base sombria, um pouco demente até, onde não é invulgar surgirem estranhos sons como sinos e drones de Igreja ou até o perturbador silêncio...Muitas vezes dissonante, ou melhor aparentemente dissonante, visto ser uma criação, um puzzle, que com a adição de peças (instrumentos, sons, rimos, pausas) e improvisos de intensidade inconstante vai fazendo cada vez mais sentido.

Um álbum que pode agradar aos mais puristas amantes de Jazz ou até mesmo aqueles que não se identificam com o Jazz tradicional mas que nutrem especial apreço por paisagens electrónicas, e que nos traz o frio, o escuro, a chuva, a tempestade, o caos ou então o fascínio, a sedução e que nos transporta até ao céu (não contem é com uma viagem pouco tumultuosa até lá...). Exemplificando: “Coda” serve-nos a especialidade dos Spring Heel Jack, numa base euforia Vs. Sombra em que possuídos violinos e trompetes evoluem, “Medusa’s Head” prima pela energia e sons retorcidos enquanto “Chiaroscuro” traz-nos a demência de um saxofone.

“Masses” é sem dúvida um disco difícil de ouvir, fácil de ser encostado numa gaveta mas definitivamente não o merece, pois apesar de por vezes ser demasiadamente estranho, é sem duvida belo e aventureiro e uma passo correcto dos Spring Heel Jack na inovação musical.

Nota: Blue Series é “Regardless of genre, music trends are showing a growing complacency to challenge convention. Felling frustrated by this stagnancy, I realized that by creating a series of records marrying jazz’s many languages, perhaps a new form could arise. The Blue Series attempts to do this in a way that will, hopefully, challenge, probe, excite, and perhaps even anger listeners as we try to strip away conventions with a new convention.”
Peter Gordon, Thirsty Ear Recordings


Miguel Marques
05/03/2003