A música também vive da falta de forma, de contornos desfocados e vultos misteriosos. De sugestões enevoadas. De dúvidas em relação ao dia de amanhã. E Foma aproveita-se das incertezas para marcar o terreno por onde caminha. A música abstracta e disforme de Lukid é um evidente fruto da manipulação sonora nas mais pantanosas paisagens do hip-hop – que ocasionalmente nos remete para os princÃpios que regeram o trip-hop ou as recentes experiências de Flying Lotus – que se disponibiliza, sem remorsos, a uniões inesperadas com as alas mais extremas do IDM ambiental (Autechre) ou com as nevralgias do dubstep.
Foma, enquanto terceiro tomo de uma jornada pautada pela evolução positiva de uma estética pessoal, não deixa também de reflectir a veneração do seu autor pelos grooves antagónicos de J Dilla ou as melodias sedutoramente insanas de Madlib enquanto propÃcia uma imagem cinematográfica virtual que privilegia as mais diversas perspectivas de um borrão negro em mutação num ambiente húmido e despreocupadamente melancólico.
Não sendo um conjunto de resultados retumbantes pela uniformidade que exibe do inÃcio ao fim, no mÃnimo conclui-se que Foma é a consequência de um trabalho de cuidadosa escultura sonora mergulhada numa calda repleta de ambiguidades, envolvendo numa manta de retalhos os mais friorentos apreciadores da arte da samplagem ou os eruditos das electrónicas sem desprezar quem ainda vê no hip-hop instrumental o escape para novas e mais pacificas realidades. E é nesse eloquente tumulto de discretas fricções que se concretizam as ideias de Luke Blair que, se não se resignar, ainda terá muito para nos contar.