Um dia Ă© por mostrar o rabo. No outro Ă© por confessar ter sido em tempos coqueluche para o negĂłcio de venda de droga do pai. Outro dia Ă© por contar experiĂŞncias lĂ©sbicas com gĂ©meas; dias há em que surge em topless nos jornais sensacionalistas britânicos ou bĂŞbeda em apresentações de prĂ©mios ou festas; outros ainda por defender o uso de drogas leves. Seja lá por que motivo for, Lily Allen parece estar no centro das atenções nos dias que correm. Felizmente, apesar de todos os riscos que corre, a mĂşsica continua no sĂtio onde deve: nos discos. E agora que chegou o seguidor do excelente Alright, Still, urge dizer que mudou a sua rota. A britânica tinha afirmado que havia seguido numa nova direcção e nĂŁo estava a mentir.
Passaram-se trĂŞs anos desde o disco de estreia e todas as aventuras e desventuras que acontecem na vida de Lily Allen foram mais que muitas. NĂŁo Ă© sabido que seja por isso, mas este novo disco Ă© um disco mais conservador. Lily Allen passou um pano no garage e no reggae e restou “apenas” a pop. E nisso, It's Not Me, It's You perde claramente quando comparado com o registo de estreia. O novo disco, cujo tĂtulo parece querer contrariar a teoria Seinfeldiana do “It’s not you, it’s me”, Ă© um esforço adocicado pela pop, uma criação de canções douradas e sonhadoras. Continuam as passagens rápidas entre o acĂşstico e o nĂŁo-acĂşstico, o sabor a tenra idade e ao que Ă© falsamente ingĂ©nuo e um ar fresco que vem do mainstream. Lily Allen Ă© uma das melhores coisas no patamar da mĂşsica que ou vende ou racha e este segundo disco Ă© disso prova.
A electrĂłnica grassa nas canções de It's Not Me, It's You; ou nas variações de humor da dramática/suave “Everyone's At It”, na balanceada “The Fear”, single colento de fácil memorização, de forma quase infantil na frontal “Fuck you”. Está por todo o lado e para todos os gostos. E a britânica trabalhar com base nessas fundações. A nova Lily Allen fica especialmente bem em canções como “Chinese”, onde tem espaço para explorar ao máximo a melodia e a fluĂŞncia da sua voz (que, já agora, dá vida a excelentes letras ao longo de todo o disco). Os arranjos servem a sua vontade geográfica/estĂ©tica/de estado de espĂrito: chega nem que seja preciso um acordeĂŁo parisiense em “Never gonna happen”, um cravo em “22” ou um rodeo na americana “Not Fair”. Tudo o que seja preciso para satisfazer a menina Allen. E ela devolve; devolve tudo em canções deliciosamente pop que já deixaram a sua marca nesta dĂ©cada.