Qualquer tentativa de biografar Otomo Yoshihide com um mÃnimo de justiça resultaria num parágrafo com mil e quintentos caracteres, pelo menos. E como nós aqui no Bodyspace somos geralmente poupadinhos (Pitchfork, embrulha!) não nos vamos dar a esse trabalho. Dizemos só que é o mesmo japonês que reinventa Eric Dolphy e lhe junta uma pitada Jim O’Rourke (ONJQ), que pega numa guitarra e produz feedback intensivo durante meia hora com o volume no máximo e que desfaz gira-discos enquanto para provocar caos sonoro.
Em qualquer dos contextos onde se apresente, Otomo marca a diferença pela originalidade. E neste encontro com Xavier Charles não foge à regra. O multi-instrumentista francês - sem parentesco oficial com o Professor X dos X-Men – tem nesta colaboração com o mais famoso experimentalista do Japão uma focada meditação sobre os limites entre som e silêncio. Entre o clarinete de Charles e a guitarra de Otomo é desenvolvido um longo diálogo, em quatro partes, em que os instrumentos se confundem com o silêncio, numa estética próxima da improvisação near silence que esteve em voga na primeira metade desta década ’00 em Londres e Berlim.
Apesar de pontualmente surgirem com momentos de maior tensão sonora, a essência deste disco está num minimalismo ambiental que, com alguma boa vontade (e ausência da noção de ridÃculo), poderia ser designado de new age para a web 2.0. Radical na abordagem, este Difference Between the Two Clocks mostra uma faceta diferente de Otomo, concentrado no detalhe e surpreendentemente pacÃfico (ou quase).