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Michael Santos The Happy Error

2008
Baskaru


Com o crescimento da credibilidade das netlabels e consequente profusão de compositores de quarto a alimentarem-nas até ao fastio com trabalhos aparentados ao sentimento nostálgico possível dentro de um laptop, torna-se premente a questão em torno da capacidade de distinção ou importância relativa de um artista em particular, submerso num mundo onde a tónica pós-Endless Summer constitui ainda a Sagrada Escritura.

Auto-explicativo na infeliz escolha para o seu título, este trabalho de estreia do inglês Michael Santos (após dois cd-r`s de edição limitada) na infante francesa Baskaru, consubstancia-se nessa mesma matéria comum a tanto nerd sonhador enterrado de cabeça anos a fio nos catálogos de editoras como a extinta Mille Plateaux ou da Staubgold. O encontro desses erros felizes que o disco rígido teima em preservar como artifício glitch com as simples melodias doces que teimam em marcar presença apesar da fricção constante, tem aqui um artesão eficaz nesse mesmo modus operandi, mas longe da relevância necessária para que ocupe algum espaço na memória. Tal como a ineficácia em reter um determinado tema perante a placidez generalizada.

O erro feliz é afinal um erro comum, e se o foi para felicidade de Santos, muito dificilmente deixará encantados os ouvidos educados numa escola onde leccionam professores tão ilustres como Ekkehard Ehlers ou Tim Hecker. Fica-se pelo bacharelato sem distinção. Subtil, The Happy Error vai alternando o calor mais melódico com pequenas erupções de estática benigna, para o conforto de sala de estar. Sem um carácter particular que o diferencie entre os seus inúmeros pares, consegue ainda assim discorrer agradavelmente na sua coerência, sem que a sua validade (ligeira) se ponha em causa. Ouvintes ainda dispostos a um sono tranquilo de qualidade encontrarão em The Happy Error motivos suficientes para que a sua presença se justifique nestas noites frias como uma companhia aprazível. Quem procurar emoções ao arrepio ou ciência litúrgica sobre o poder do drone, terá certamente muitas outras opções mais viáveis para onde se virar.


Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
04/02/2009