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São Paulo Underground The Principle of Intrusive Relationships

2008
Aesthetics / Flur


“O São Paulo Underground sobrepõe camadas de som.” A primeira frase das liner notes denuncia desde logo o processo de produção desde projecto de Rob Mazurek e Maurício Takara. E, lá pelo meio, o texto de apresentação do disco é ainda mais assertivo: “é tudo violento, tenso, sincopado”. De facto desde que Mazurek começou a trabalhar com Takara (dos Hurtmold) a música ficou mais negra, perturbada. Já não se trata do jazz oblíquo do Chicago Underground, há agora uma assombração pós-industrial que se sobrepõe ao som da corneta.

Este novo disco não foge muito aos parâmetros que conhecíamos do disco inaugural: cenários texturais densos, electrónicas em abuso, processamentos diversos, barulheira avulsa. E apesar disto tudo é ainda possível sentir uma certa pulsação jazz, nos momentos em que a corneta se expõe, em fraseados mais ou menos assumidos – mesmo processado electronicamente, o som de Mazurek é ainda assim reluzente, impregnado de uma tradição que não desgruda mesmo nos contextos mais ruidosos.

Tendo sido responsável por um dos mais aclamados discos jazz do ano, Bill Dixon with Exploding Star Orchestra, este The Principle of Intrusive Relationships é um contraponto em linguagem fragmentada aos discursos celestiais em parceria com mestre Dixon. A homogeneidade criativa de ambos os discos é incrível e é fascinante observar a aparente naturalidade com que Rob Mazurek saltita entre universos díspares - como quando apareceu na Trem Azul para improvisar numa jam session, depois de ter acompanhado Marcelo Camelo no seu concerto no Super Rock em Stock. O talento vê-se também nos pequenos gestos. E nos grandes discos, como este.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
29/01/2009