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Boredoms Super Roots 9

2008
Thrill Jockey / Mbari


Paralelamente às suas divagações dadaístas em álbuns como Pop Tatari ou Chocolate Synthetizer, o caminho em direcção ao espaço sideral traçado pelos Boredoms já havia sendo delineado de forma mais ou menos evidente na série de ep`s Super Roots. Elevando as inclinações punk que marcavam os seus tempos de auto-destruição a um patamar quase transcendental, com recurso à repetição ad-aeternum dos três acordes primordiais. Esta fórmula, onde se descortinam notórias influências kraut e um apreço pela espiritualidade psicadélica veio a ser perfeccionada nos fabulosos Super Are (a ruptura?) e Vision Creation Newsun, sem esquecer a sua revisão em Rebore Vol. 0 pelo mentor Yamatsuka Eye.

De controlos apontados ao coração do Sol, os limites terrenos mostravam-se incapazes de reter as ambições magnânimas do quarteto japonês, entretanto rebaptizado de Vooredoms em consonância com o infinito que parecia ser agora o limite. Anos de espera e Seadrum/House of the Sun soou a semi-desilusão para quem esperava a expansividade do passado. Pouco mais parecia restar ao cometa Boredoms senão alimentar-se das poeiras cósmicas libertadas. E se os ambiciosos concertos realizados nos dias sete e oito desses mesmos meses de 2007 e 2008 com a presença de setenta e sete e oitenta e oito bateristas, respectivamente, deve ter sido algo de absolutamente avassalador, edições condizentes não tinham espaço para gerar um entusiasmo digno de nota nos públicos mais out devotos às experiências japonesas. Ignorando a natureza cíclica da vida, os Boredoms dão seguimento ao seu cometa com o oitavo capítulo da série Super Roots (não existe o número 4 pela associação deste à morte no Japão). Gravado perante uma audiência de pouco milhares na véspera de Natal de 2004, poderia ser facilmente encarado como uma estratégia meramente mercantilista (e os Boredoms são exímios no que toca a manobras de marketing) de um projecto cuja perenidade tem vindo a ser posta em causa perante a sua megalomania. Mas os cerca de cinquenta minutos da proposta facilmente deitam por terra qualquer argumento nesse sentido, mesmo que se confine ao modo Boredoms larger than life que lhes tem sido característico.

Contando com o precioso contributo de um coro de vinte e quatro vozes, Super Roots 9 deixa-se imbuir no espírito angelical da quadra que o presidiu e de encontro ao ataque mimético dos três bateristas e variada parafernália electrónica de Eye, anuncia de modo triunfal a chegada do Senhor em voos rasantes em torno da Terra para nunca se deixar cair cansado até ao seu inevitável final. Mesmo encerrado na bolacha de um cd, o som expande-se muito para além das limitações físicas da música para se entregar a espaços mentais inimagináveis onde o coro de anjos invoca os trovões conduzidos pela armada rítmica ao comando da batuta psicadélica de Eye. Incessante movimento de trajectória elíptica em torno do cérebro, modulado a seu bel prazer e sem nunca se deter em paisagens estanques, Super Roots 9 nunca se conclui. Deixa-se conduzir pela sua própria vibração até não restar mais do que a memória de um concerto em forma de viagem sem destino e sem regresso. Hossana que estais no Céu que os Boredoms já abandonaram a Terra há muito. Ainda bem que nos vão visitando de tempos a tempos.


Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
10/01/2009