Eles dizem que não os conhecem e nós acreditamos. Mas é difÃcil não nos lembrarmos dos Young Marble Giants quando ouvimos o primeiro álbum do duo High Places. Não como referência pilhada, mas como cultores de uma certa pop.
Tal como Alison Statton, dos Giants, a voz de Mary Pearson é frágil, cantada quase sem esforço; as melodias desviam-se da estrutura mais clássica dos Giants, mas são também construÃdas com bases mÃnimas e repetitivas. Mas, onde os Young Marble Giants eram regrados e secos, os High Places pintam tudo com camadas de reverb e desenham quadros balneares, nada austeros.
Apesar das diferenças estilÃsticas, é possÃvel alinhar o duo, formado em 2006, com bandas como os Lucky Dragons ou os Animal Collective. Em comum, têm uma vontade de evasão pela música, que baloiça num ponto de equilÃbrio entre a atractividade pop e a experimentação, e a utilização de maquinaria electrónica como forma de organizar o seu mundo sónico, que tem origem, quase sempre, nos instrumentos tradicionais do rock.
High Places amadurece as pistas deixadas na colecção de singles 03/07-09/07, o primeiro registo discográfico dos High Places, também deste ano. É novamente um disco de cantilenas danificadas, feitas da junção da voz quase infantil de Pearson com partes instrumentais e ritmos simples em loop. A diferença está na concisão de ideias, para além de um cuidado maior com a produção que torna esta pop mais colorida e recompensadora.
"The tree with the lights in it", maravilhosamente alegre, com múltiplos micro-ritmos justapostos, é falsamente tropical, inventora de praias e outros locais paradisÃacos mentais (o disco foi gravado no apartamento do duo em Brooklyn, que é tudo menos o que a música sugere). A pequena "Papaya year" é de uma assinalável paz luminosa, perfeita para anteceder "Namer", com percussão algures entre Ãfrica e outros mundos. E "From Stardust to Sentience" é uma séria candidata a música encantatória do ano.
O que torna a música dos High Places especialmente encantadora é a forma como transformam as noções de "inacabado" e "simples" em vantagens. Usam loops, mas não têm nada de mecânico; apostam em ritmos simples e em poucas ideias por canção, mas conquistam-nos pela profundidade da alegria que professam. Depois do burburinho, High Places confirma todas as expectativas colocadas em torno do duo.