Traçando um paralelismo enquanto géneros extremos, a assimetria entre o black metal e o death metal ao longo deste século tem sido descaradamente clara. Enquanto os ventos gélidos do Norte da Europa se enxertaram em triunfo num moribundo panorama metaleiro norte-americano, dando azo a experimentações revigorantes e um devido reconhecimento no subterfúgio drone/noise, o segundo veio a ficar refém da sua brutalidade rotineira e do falso desvio para a melodia operado em Gotemburgo. Dispensa-se a cabeça e aniquila-se o headbanging, incapacita-se o pensamento, instala-se o torpor. Os sinais da decadência, evidentes: Chris Barnes descobre a erva e abandona as temáticas gore, The Bleeding reescreve-se pela enésima vez, enquanto os Criptopsy se refugiam no seu autismo matemático.
Com excepções em álbuns como Outre dos australianos Portal, tem faltado ao género o agitar das águas pantanosas que lhe assegure premência num futuro onde t-shirts de Iron Maiden se encontram em lojas do Bairro Alto a preços exorbitantes. Não sendo particularmente inovadores, trabalhos de bandas como Pig Destroyer, Cattle Decapitation ou Soilent Green sempre asseguraram palavras elogiosas tanto nas publicações dedicadas ao metal como fora das franjas mais conservadoras do género. Resta, ao certo, constatar a posição da Relapse enquanto fim de prumo do Death Metal nos últimos dez anos para que se esboce um sorriso (e algum optimismo), graças a eficazes experiências fusionistas death/stoner/sludge e mutações grindcore operadas nos laboratórios de alguns dos principais projectos do seu respeitável catálogo. Não constitui qualquer surpresa que dois dos álbuns mais estimulantes deste ano se abriguem por baixo do tecto Relapse.
Antithesis dos Origin reclama da cabeça o cérebro para o entreter em fórmulas matemáticas de resultado certeiro. Escapando aos labirintos do Death Metal mais técnico, por nunca perder uma linha condutora onde se alicerçam os temas, descobre assim saÃdas por entre estruturas complexas de lógica interna bem mais simples (de trejeitos grind) do que a aparente oferta de brutalidade matemática que tem sabotado a carreira dos Hate Eternal. Certeiro nas opções e desvios tomados e (com alguma boa vontade) até mesmo passÃvel de instaurar algum conforto, redescobre-se repetidamente.
Construindo um pequeno culto entre metalheads e punks mais vigorosos, aos Toxic Holocaust restou a sabedoria de refinar a sua fórmula de Death/Trash metal tradicional (mas nunca revisionista) até um patamar em que pouco haverá a apontar em An Overdose Of Death para além de se tratar do álbum mais memorável de que há memória em tempos recentes no abrangente espectro metaleiro norte-americano. Oferece-se a cabeça ao headbanging compulsivo. Tudo parece perfeito: riffz precisos de inspiração punk, refrões para entoar de punho cerrado e cavalgadas pelo braço da guitarra. Tudo parece (demasiado) simples: verdade irrefutável, mas muito poucas vezes em tempos recentes se sentiu em discos de Metal (qualquer que seja a ramificação) a urgência que transpira ao longo destes trinta e seis minutos. E quando foi a última vez que se levou um álbum de Death Metal para o automóvel?