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Jazzanova Of All The Things

2008
Verve / Universal


De tudo o que poderia ter acontecido, aconteceu talvez o que poucos estavam à espera: uma transformação sonora dos Jazzanova. Sejamos transparentes na analise: se uns se interrogam sobre o significado de um disco desta natureza no final da primeira década do milénio, outros não encontraram dificuldades em apontá-lo como um excelente exemplo de determinação de um colectivo (Alexander Barck, Claas Brieler, Jürgen von Knoblauch, Roskow Kretschmann, Stefan Leisering e Axel Reinemer) que começou por desmontar os clássicos da soul, do jazz ou da bossa-nova numa matriz electrónica, para agora, dez anos volvidos sobre o início das actividades, demonstrar – com sabedoria adquirida – que também é capaz de compor canções à boa velha maneira.

E sem dúvida que Of All The Things tem essa ambição e que aspira atingir o desejado degrau da eternidade através da depuração sonora e do revivalismo. Só assim se poderá entender que desde o início até ao fim, o segundo registo de originais, nada mais faça que esforçar-se por ser específico na sua viagem. Assim, como se de uma agência turística se tratasse, o sexteto de Berlim programou paragens pelas referências de eleição – da soul da Motown à soul de Filadélfia, do jazz à pop, da bossa ao samba -, passeando-se – como raramente se vê – pelos últimos cinquenta anos da história da música popular com invejável eloquência.

Não faltará quem acuse os Jazzanova de terem atingido a meia-idade e de se terem esquecido dos ritmos revigorantes que alegraram as suas remisturas ou de terem perdido o sentido mais aventureiro na caverna dos clássicos. Por outro lado também não faltará quem ache que da proficiência e da pureza estética nem o disco, nem os Jazzanova se vão livrar tão cedo.

As primeiras amostras exibidas há um ano – em Belle Et Fu – já revelavam os primeiros indícios da “fuga da arte†do colectivo para paragens mais orgânicas e repletas de arranjos sofisticados. Mas se no seu conjunto os temas do ano passado revelavam um rumo ainda ambíguo, os temas agora exibidos em Of All The Things mostram a certeza de quem sabia o que pretendia no início da jornada. E apesar da ambição, ocasionalmente desproporcionada, Of All The Things não deixará de ser directo na razão da sua existência e bom espírito na sua essência. Mesmo que rapidamente se conclua que não é, nem nunca será, uma obra-prima.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
25/11/2008