Os My Morning Jacket são uma banda americana que sempre teve alguma dificuldade no momento de transportar o seu sucesso (no patamar indie, é certo) para o outro lado do Atlântico. Talvez porque o seu rock & roll clássico, de raízes sulistas, construído com base em guitarras cheias de reverberação, soe demasiado americano, no sentido mais tradicional do termo. Mas os My Morning Jacket mudaram, especialmente desde Z, editado em 2005.
Evil Urges é um passo em frente nesse processo. Ainda há muito country e psicadelismo “à la” anos 60, mas a banda aposta definitivamente numa toada mais indie e em experimentalismos que fazem deste álbum um mini-caleidoscópio. Isto parece contrariar as declarações do frontman Jim James, que disse que os My Morning Jacket se queriam aproximar mais da forma como soam ao vivo. Mas James acrescentou outro objectivo, conseguido a espaços: fugir ao “som comum do rock and roll”. Há no disco harmonias muito mais trabalhadas do que no passado da banda e até uma dose de ironia, na paródia ao heavy metal que é “Highly Suspicious”.
Os melhores momentos de Evil Urges são aqueles em que o grupo tira mais partido do trabalho de estúdio: “Touch Me I'm Going to Scream Pt. 1” e “Touch Me I'm Going to Scream Pt. 2”. Não por acaso, são duas músicas em que sintetizadores assumem destaque, especialmente no segundo caso: uma faixa com mais de oito minutos, alimentada a teclados kraftwerkianos, num ritmo dançável (a fazer lembrar o projecto The Whitest Boy Alive, de Erlend Øye) e com vocalizações em falsete.
A maior parte das restantes canções soa demasiado “limpa”. São “baladonas” como “Thank you too” e a muito country “Sec Walkin'”, midtempos de nível apenas razoável e dois exercícios mais rockeiros (“Aluminum Park” e o muito melhor “Remnants”). A viagem não é deslumbrante, mas Evil Urges pode ser um bom disco para “rolar”, oferecendo o pequeno bónus de conter muitos pormenores que podem ser descobertos a cada audição. Mas sejamos directos: trata-se de um típico disco de nota “suf”.