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Flaming Lips Yoshimi Battles The Pink Robots

2002
Warner


“Vou dizer a verdade: sorrio como uma criança durante os quarenta e sete minutos de Yoshimi Battles The Pink Robots.†(André Santos, aputadasubjectividade.net). A frase encontramo-la numa paragem (que se quer demorada) num beco da auto-estrada global da informação e sintetiza bem o sentimento que qualquer pessoa tem ao ouvir o álbum. É mesmo assim, sem tirar nem pôr: o disco que representou uma maior inclinação para as electrónicas dos Flaming Lips provoca sorrisos. E donde provêm esse sentimento? Da esperança, magia e excelência que a banda de Wayne Coyne consegue transportar para as suas músicas. Ao abraçarem as electrónicas, arrastam a sua música para a fila da frente de uma série de projectos que cruzam a pop e o rock com os sons característicos da era das “máquinasâ€. Assim, conseguiram um disco que é simultaneamente uma confluência entre a escola clássica e os novos avanços ditados pelas electrónicas, sem perderem a linguagem que havia caracterizado os discos anteriores. A personalidade continua presente, e isso é algo que muitas bandas perdem quando pretendem mudar de atitude. Felizmente, os Flaming Lips conseguiram estabelecer uma ponte perfeita.

Para ditar a entrada em cena das electrónicas, o produtor Dave Fridmann teve um papel mais do que importante. Foi ele quem “disponibilizou†as ferramentas necessárias aos Flaming Lips para criar uma confluência perfeita entre todos os elementos. O pop-sci-fi psicadélico (menos psicadélico do que já foi é certo, mais ainda assim psicadélico) de “Yoshimi Battles de Pink Robots†tem por isso uma mão muito importante de Fridmann, que parece encaixar na perfeição com a genialidade de Coyne.

Há uma história que conduz o disco criando assim uma ideia de cadeia declarativa entre as canções (sem se assumir como conceptual). Existe uma toada filosófica que guia um enredo entre um robot cor-de-rosa e um humano (Yoshimi). Primeiramente são nos apresentados os intervenientes e segue-se depois um combate. Numa era em que as máquinas já estão mais avançados que os homens, o robot acaba por morrer pelo amor que tem por Yoshimi e apenas ela fica a conhecer essa verdade enquanto toda a humanidade celebra a sua vitória. É entre este enredo, sempre subjectivo e convenientemente interpretado por cada um, que o disco é depois guiado mas onde o optimismo acaba por vencer perante a ameaça de tempos difíceis.

Basta ouvir “Yoshimi Battles The Pink Robots, Pt. 1†para perceber que este não é apenas mais um disco a encher as já cheias estantes das lojas de discos. Se este tema não for suficiente, então qualquer outra música – mesmo qualquer uma – chega para voltar a realçar esse facto. A pop sinfónica e épica que aqui nos é dada enche-nos o espírito, faz-nos entrar num reino fantasista, mostra-nos quão dura pode ser a relação homem/máquina. Com pistas na morte, solidão ou perda, “Yoshimi Battles The Pink Robots†é apesar de tudo uma celebração da vida. E é por isso que a toada de esperança nunca se perde. É por isso que a melancolia existe mas que a cor comum é de optimismo. Sorrisos, no final de contas.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
02/02/2003