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Brad Mehldau Trio Live

2008
Nonesuch


JĂĄ sabĂ­amos que Brad Mehldau Ă© um dos mais talentosos mĂșsicos da sua geração, um dos mais reputados pianistas da actualidade. Com o seu trio jĂĄ desenvolveu um importante “body of work”, desde os cinco volumes The Art of the Trio (1997-2001) atĂ© ao Ășltimo Day Is Done (2005). Agora o trio regressa com um novo disco, um duplo gravado ao vivo que reĂșne uma quantidade grande de temas, entre covers e originais.

TambĂ©m jĂĄ se sabia que Mehldau sempre gostou de surpreender, interpretando temas pouco comuns do cancioneiro jazz tradicional, inovando na escolha do repertĂłrio – jĂĄ se tornou habitual vĂȘ-lo a improvisar a partir de melodias dos Radiohead ou Nick Drake. Desta vez as escolhas recaĂ­ram sobre temas dos Oasis (o hino britpop “Wonderwall”, e afinal nĂŁo deram ao mundo apenas o penteado “franja-longa-para-rapaz”), Chico Buarque (o tema “O Que SerĂĄ?”, do disco “Meus Caros Amigos” de ‘76), Soundgarden (o clĂĄssico grunge “Black Hole Sun”).

Mais uma vez as melodias sĂŁo o ponto de partida para Meldhau se aventurar em novas configuraçÔes, sempre evidenciando sinais de uma imensa personalidade lĂ­rica. E se Ă© verdade que nem sempre a melodia Ă© o mais importante, Mehldau trata-a sempre com enorme reverĂȘncia, nunca a deixando de lado a propĂłsito de reinvençÔes subversivas. É a melodia que conquista o ouvinte e Ă© a ela que o pianista regressa sempre, por muitas voltas que dĂȘ – e Mehldau sabe dar muitas.

Quer se atreva a trabalhar originais, a refazer standards (“The Very Thought of You” e “More than You Know” sĂŁo veludo sem qualquer mofo) ou a reinventar clĂĄssicos pop (e nĂłs jĂĄ o tĂ­nhamos visto a dar a volta aos originais do Chico ou dos Soundgarden no CCB), Mehldau consegue sempre impregnar a sua mĂșsica com uma elevada dose de originalidade e frescura – coisas de uma modernidade nĂŁo-forçada, num perigoso campo de trabalho onde Ă© fĂĄcil deslizar para a banalidade ou para a inconsequĂȘncia.

Com Larry Grenadier (contrabaixo) e Jeff Ballard (bateria) aliados sob um Ăłptimo sentido de unidade, o pianista desenvolve neste Live mais um muito interessante capĂ­tulo na carreira, onde a mĂșsica nunca se deixa apanhar pela sombra da previsibilidade e, simultaneamente, consegue evocar quase em permanĂȘncia um vigoroso lirismo.


Nuno Catarino
nunocatarino@gmail.com
08/10/2008