JĂĄ sabĂamos que Brad Mehldau Ă© um dos mais talentosos mĂșsicos da sua geração, um dos mais reputados pianistas da actualidade. Com o seu trio jĂĄ desenvolveu um importante âbody of workâ, desde os cinco volumes The Art of the Trio (1997-2001) atĂ© ao Ășltimo Day Is Done (2005). Agora o trio regressa com um novo disco, um duplo gravado ao vivo que reĂșne uma quantidade grande de temas, entre covers e originais.
TambĂ©m jĂĄ se sabia que Mehldau sempre gostou de surpreender, interpretando temas pouco comuns do cancioneiro jazz tradicional, inovando na escolha do repertĂłrio â jĂĄ se tornou habitual vĂȘ-lo a improvisar a partir de melodias dos Radiohead ou Nick Drake. Desta vez as escolhas recaĂram sobre temas dos Oasis (o hino britpop âWonderwallâ, e afinal nĂŁo deram ao mundo apenas o penteado âfranja-longa-para-rapazâ), Chico Buarque (o tema âO Que SerĂĄ?â, do disco âMeus Caros Amigosâ de â76), Soundgarden (o clĂĄssico grunge âBlack Hole Sunâ).
Mais uma vez as melodias sĂŁo o ponto de partida para Meldhau se aventurar em novas configuraçÔes, sempre evidenciando sinais de uma imensa personalidade lĂrica. E se Ă© verdade que nem sempre a melodia Ă© o mais importante, Mehldau trata-a sempre com enorme reverĂȘncia, nunca a deixando de lado a propĂłsito de reinvençÔes subversivas. Ă a melodia que conquista o ouvinte e Ă© a ela que o pianista regressa sempre, por muitas voltas que dĂȘ â e Mehldau sabe dar muitas.
Quer se atreva a trabalhar originais, a refazer standards (âThe Very Thought of Youâ e âMore than You Knowâ sĂŁo veludo sem qualquer mofo) ou a reinventar clĂĄssicos pop (e nĂłs jĂĄ o tĂnhamos visto a dar a volta aos originais do Chico ou dos Soundgarden no CCB), Mehldau consegue sempre impregnar a sua mĂșsica com uma elevada dose de originalidade e frescura â coisas de uma modernidade nĂŁo-forçada, num perigoso campo de trabalho onde Ă© fĂĄcil deslizar para a banalidade ou para a inconsequĂȘncia.
Com Larry Grenadier (contrabaixo) e Jeff Ballard (bateria) aliados sob um Ăłptimo sentido de unidade, o pianista desenvolve neste Live mais um muito interessante capĂtulo na carreira, onde a mĂșsica nunca se deixa apanhar pela sombra da previsibilidade e, simultaneamente, consegue evocar quase em permanĂȘncia um vigoroso lirismo.