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Vincent Gallo When

2001
Warp


Confesso que a primeira vez que ouvi este álbum, senti-me perfeitamente desiludido. É tão aborrecido, tão monótono! E confesso que não fui ver o "Buffalo 66". Mas confesso também que a primeira vez que ouvi "When" foi no interior de um Centro Comercial. Ou seja, é obviamente verdade que cada música deve ser ouvido num contexto específico. Por isso, este álbum mereceu uma segunda oportunidade, no local devido. E o local devido é uma cama, em silêncio, depois de um dia de trabalho. É este, para mim, o verdadeiro conceito de "chill-out".

Mais do que isso, as músicas de Vincent Gallo são as músicas que qualquer pessoa faz quando pega numa guitarra num qualquer momento de introspecção, com tudo o que isso tem de positivo. "When" é realmente um conjunto de músicas íntimas, inseguras e delicadas, tocadas por uma só pessoa que se entrega ao ouvinte completamente indefeso. E essa pessoa toca também todos os instrumentos, com batidas dessincronizadas e guitarras de notas soltas, provavelmente sem perceber muito de música, mas fazendo canções simples e belas. Gallo não quer mais do que isso. Apenas o seu espaço. É nesta medida relevante o aspecto lo-fi de "When", como se fosse gravado por um adolescente no seu quarto numa tarde chuvosa.

Vincent Gallo é um song-writer, mas não é um song-writer como Nick Drake, por exemplo. Ele não procura estabelecer ligações minimamente ambiciosas com outros instrumentos que não a guitarra. Ele não procura dedilhados complexos. Para além de lo-fi, o seu álbum é extremamente low profile. O que até surpreende vindo de uma editora como a Warp, onde predominam os sons electrónicos cheios de uma ambição desmedida de ser a next big thing, ou, dizendo por outras palavras, tentando sempre estar um passo à frente (e efectivamente estão). "When" é portanto uma lufada de ar fresco no contexto actual, fazendo lembrar os fenómenos dos Strokes ou dos White Stripes, que voltaram deliberadamente atrás no tempo, à procura da velha e simples canção.

Só é pena que Gallo use demasiadas vezes a repetição, porque, ao ser tão simples, a sua composição torna-se por vezes bastante monótona. Faltam elementos que desequilibrem, que torne mais audível esta obra, como os elementos electrónicos em "Come from Heaven" dos Alpha, por exemplo, com que "When" partilha de grandes similaridades estéticas e composicionais.
Mas ficamos à espera de mais.

Para quem quiser saber mais:
Alpha - "Come from Heaven"
Nick Drake - "An introduction to"
Spain - "The blue moods of Spain"


Nuno Cruz
22/04/2002