Entalados entre a vã glória de ter pertencido ao frenesim Madchester e o encaixe no universo da britpop, os Charlatans UK sugeriram sempre uma certa falta de rumo. Dessa desorientação resultaria a travessia no deserto que tem marcado os últimos cerca de dez anos de actividade do colectivo britânico. Em 2008, onze anos após o álbum Tellin’ Stories ter reclamado alguma pertinência à continuidade da banda no activo, surge o primeiro suspiro de fôlego após anos de sucessivos lançamentos sofrÃveis. You Cross My Path não tem argumentos que cheguem para afastar definitivamente a banda do deserto, mas constitui um pequeno oásis de esperança no meio da aridez do seu passado recente.
Por força do relativo anonimato a que foram remetidos os últimos álbuns, Tim Burgess e companhia resolveram dar a volta ao miolo à cata de uma estratégia que valesse ao novo rebento maior exposição. James Spencer, que assumiu as remisturas de Waiting for the Sirens’ Call , o derradeiro longa-duração dos New Order, foi chamado a produzir este regresso e, não se julgue coincidência que faixas como “The Misbegotten†tracem a papel quÃmico o que conhecemos dos NO deste século. Para além de Spencer, também a chamada de Alan Moulder para a remistura do disco – ele que já trabalhou com músicos como os U2, Arctic Monkeys ou Depeche Mode -, inspira o esforço de promoção. O maior sinal de clarividência da banda neste domÃnio seria, contudo, a disponibilização gratuita do disco na página da rádio britânica XFM e posteriormente na sua página oficial. Sem este expediente, os Charlatans dificilmente chegariam aos ouvidos de um público mais amplo do que os seus resistentes seguidores.
Não há milagres, contudo. Aqui, não se vislumbra nem um espÃrito novo, nem rasgos de génio que rotulem este lançamento de engenhoso. É certo que, face à calamitosa sugestão do reggae que marcou o álbum precedente (Simpatico, 2006), o regresso à indie açucarada é uma opção mais sensata. E há que admitir que a audição ininterrupta dos dez temas do disco revela uma certa coesão do mesmo, que se mantém acima da linha da mediocridade. Podem apreciar-se algumas guloseimas, como a linha de baixo de “Bad Days†ou o groove de “Missing Beats (Of a Generation)â€, mas, após o efeito inebriante, o que transparece é a falta de substância. São, ainda assim, um chamariz para a reapreciação do percurso da banda e uma janela semi-aberta para a retoma.