Os Notwist sempre foram uma banda dada a deambulações e mutações estilĂsticas. Se no inĂcio se aventuraram por territĂłrios mais negros e pesados, agora cederam finalmente Ă melancolia trazida por cenários frios e electrĂłnica estimulante. Neon Golden nĂŁo teve apenas o dom de apresentar definitivamente essa faceta; teve a capacidade de se tornar num disco que se gosta de ter por perto em certas e determinadas situações, um disco muito pessoal e intimista. Na sua perfeição pop rendeu alguns bons hits de ouvido interno, de consumo prĂłprio.
Depois da bastante interessante aventura com os Themselves num projecto intitulado 13 & God, os Notwist estĂŁo de regresso com mais um disco bem conseguido. The Devil, You + Me pode mostrar-se saĂdo da casca no inĂcio – “Good Lies” parece querer por um pĂ© fora de casa – mas rapidamente volta ao conforto do sofá e ao intimismo que lhes conhecemos. Pode ter algumas recaĂdas atĂ© ao final das viagens, mas The Devil, You + Me Ă© sempre um disco de trazer por casa – no melhor dos significados que a expressĂŁo possa ter.
Os argumentos? Canções como “Where in this World”, em que mil e uma fragmentos se reĂşnem para criar minĂşsculos momentos de beleza. Há cordas que se digladiam violentamente, há electrĂłnica maravilhosamente manipulada, há rasgos de melodias que surgem de locais inesperados, há paisagens que se criam no horizonte, há a voz de Markus Acher que embrulha sempre tudo com perfeição. Por ser o retrato fiel de The Devil, You + Me, “Where in this World” foi acertadamente escolhida para single. Podia ter sido a colorida “Gloomy Planets”, “Gravity” ou “Boneless” sem que a imagem do disco saĂsse significada ou desvirtuada. A coerĂŞncia a algumas bandas pode enjoar; aos Notwist fica-lhes a matar.