A avaliar pela capa, Bless You promete negrume e melancolia. Promete um mundo de contrastes limitados onde a solidão procura diligentemente a esperança. Com a audição, a apreciação da imagem confirma-se. Entre a tristeza compassada de quem procura rumo e a distância da memória que se extingue por falta de determinação ou entre a essência humana amordaçada e a instante promessa da desilusão, a música dos dinamarqueses Lulu Rouge (DJ T.O.M. e Buda) envereda pelo factor psicológico da dúvida e medo colectivo revertendo a favor da sua música os elementos da inquietude.
Erguendo sons que no seu exterior revelam fragilidades, revelando no entanto alguma consistência no núcleo, Bless You equilibra-se no gume entre a desolação urbana projectada em cadencias minimais e melodias funestas e soturnas – mescladas frequentemente com rasgos digitais e ecos perdidos – e a ténue luminosidade de uma pop traiçoeira e perdida nos meandros dos becos desgastados pelo tempo. E bastará tomar atenção à escrita e em alguns tÃtulos atribuÃdos para perceber que por aqui o rescaldo da felicidade consumida pelo revés ainda não está concluÃdo.
As pulsações do tech-house servem de pilar à deambulação de melodias atmosféricas outrora esculpidas por Brian Eno ou Aphex Twin, tal como noutros momentos, e de forma mais especifica, somos tentados a nos relembrar de nomes como Chain Reaction ( «Lulu’s Theme»), Massive Attack («End Of The Century») ou Gus Gus («Bless You») para interiorizar o espÃrito e nos localizarmos neste espaço semi-desolado por onde Burial por vezes também caminha. Bless You chega mesmo a ser cinematográfico na forma como capta as imagens, não sendo tão proficiente na forma pop como depois as interpreta. A promiscuidade e a insipiência pop, por exemplo de canções como «Ninna Nanna» ou «Sweeter Than Sweet», deixam um travo de descontentamento pela falta impacto que a suposta canção deveria dar. DaÃ, e sendo sincero, acreditar que os Lulu Rouge deveriam dedicar-se ao que melhor sabem fazer: os instrumentais; abençoados sejam pela coerência.