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Mirah Advisory Committee

2001
K Records


Logo na faixa inaugural, Phil Elvrum, o senhor Microphones, através da percussão ribombante, diz-nos que este não é um disco indie/folk/lo-fi normal. Resultado de uma aliança entre Mirah Zeitlyn e Elvrum, Advisory Committee é o momento máximo no percurso da norte-americana, ao confrontar o engenho na escrita de canções de Mirah com a experimentação de Elvrum.

"Cold Cold Water", que abre o disco (para além da maravilhosamente épica percussão, há violinos em suspensão, um órgão luminoso, guitarras tão tímidas quanto a voz de Mirah), quase justifica um texto só para ela: é um pico criativo difícil de igualar, um dos mais memoráveis temas que a música indie produziu nesta década. É o momento alto de um disco que tem muitas outras razões para a ele voltar.

Estamos perante um discreto clássico, repleto de jóias em miniatura, como "After you left", minuto e meio de beleza simples (órgão, baixo e voz chegam), "Recommendation", pop lo-fi movida a caixa de ritmos e órgão, ou "Special Death" e "The Garden", marchas fúnebres deliciosamente rudes.

Muitas canções são só Mirah, guitarra acústica e um ou outro instrumento. Mas nada aqui é aborrecido, nem choninhas, males habituais em moçoilas (e moçoilos) adeptas do "acústico".

Há uma certa aspereza na sua escrita de canções e na voz de Mirah, tão inocente quanto sofrida. É esta qualidade que faz de uma falsa valsa como "Light the match" algo incrivelmente romântico ("I want to start a fire in your heart tonight/Oh, tell me why do I so yearn to cause trouble?") e de "Apples in the tree" um tema com efeitos muito mais potentes do que a escassez de meios com que é feita poderia fazer prever.

Advisory Committee é ideal para primaveras frias e outonos secos. Ou - se quisermos evitar estas embaraçosas analogias musical-climatéricas - para qualquer época do ano em que o "aninhanço" seja a melhor forma de estar.


Pedro Rios
pedrosantosrios@gmail.com
22/09/2008