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Basic Channel BCD 2

2008
Basic Channel


Não há visão de futuro que não se recupere. Seja na reinterpretação dessa mesma visão pelo olhar de um curioso ou na simples edição de uma antologia que devolva numa assentada o prazer da descoberta musical que caracterizou boa parte dos anos 90. E escusada será a redundância da afirmação que quanto mais rara for a matéria, melhor será a (re)descoberta. Observe-se o exemplo da Basic Channel (tanto o projecto dos produtores Moritz Von Oswald e Mark Ernestus, como a editora) que, tendo estado durante boa parte de uma década na linha da frente da reconfiguração dos paradigmas do techno, sempre manteve a descrição típica de quem apenas se movimenta na música pelo simples prazer da sua elaboração.

Será redutor resumir esta nobre colheita de experimentalismo techno – editada agora pela primeira vez em cd – a uma mera antologia de interesse arqueológico. Mais do que ser capaz de resgatar de uma pilha de 12†quase esquecidos pelo tempo, os alemães Basic Channel devolvem a verdade a uma comunidade que os referencia frequentemente mas que aprendeu a ignorar os propósitos da verdadeira acção criativa. Ou por outras palavras, a diluição de um tipo de pensamento estratégico como consequência das crescentes facilidades que a programação tecnológica foi trazendo a música. E se o alerta para a crescente banalidade do minimalismo foi dado por gente como Magda, não tardará que o desprezo colectivo condene à pequenez uma linguagem que ainda poderá fazer sentido se for cuidada e elaborada para além da mediocridade da programação elementar e repetitiva.

Talvez por isso fará hoje muito mais sentido a edição de BCD-2 que à meia dúzia de anos, seja pela sempre pertinente recuperação de valiosos pedaços de história, seja, essencialmente, pela lição de integridade que esses mesmos pedaços injectam na ignorância colectiva contemporânea. E entre os primeiros passos no desenvolvimento de um dub-techno – dos quais serão os DeepChord ou os Echospace os melhores herdeiros – ou aprofundamento estilístico do house ou do techno numa narrativa despojada de excessos, nada como o involuntário envolvimento pela singularidade sonora de um projecto que soube inteligentemente criar mais-valia e lentamente inventar uma linguagem sagaz que muitos ainda hoje almejam imitar e poucos procuram desafiar. De estudo obrigatório.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
02/09/2008