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Menace Ruine Cult of Ruins

2008
Alien 8


Apagados os fogos na imprensa (e nas igrejas) sobre o polémico cenário black metal escandinavo, pode-se finalmente encarar com a seriedade devida um género que num mundo pós-Filosofem tem-se mostrado bem mais estimulante e expansivo do que os caminhos tradicionalistas por onde se costuma passear o metal. Imiscuindo-se por entre franjas mais experimentais e reverenciado por publicações como a Dusted e músicos como Kevin Drumm, parece finalmente ter ganho o respeito que lhe foi vetado durante anos. Daí que a aparição de Cult of Ruins numa editora como a Alien 8 (Les Georges Leningrad ou Nadja), embora algo surpreendente, não deixe de ser também natural, dada a natureza transgressora do duo canadiano.

Vindos do mesmo gelado Quebéc que viu nascer Akitsa ou Wold, os Menace Ruine (constituídos por Geneviève e S. de La Moth) deixam cair o corpsepaint (que se tem revelado tão prejudicial) para transfigurar o género numa visão infinitamente mais interessante e pessoal do que toda a discografia conjunta dos Dimmu Borgir e Cradle of Filth. Produzido por James Plotkin, Cult of Ruins apresenta-se como uma amálgma de batidas reminiscentes de Streetcleaner dos Godflesh e o mais inteligente uso de teclados desde que Wrest se lembrou de os transportar para esse Mundo que é Lurker of Chalice, aos quais não é imune um certo apreço por tácticas herdadas do noise mais obscuro norte-americano.

"Process of Bestialization" e "Dove Instinct" fazem-se valer de interessantíssimos pormenores de feedback e poeira shoegazing para alimentar a furiosa descarga vocal de S. de La Moth, enquanto o final com "Atavism" seria drone de manicómio, não fosse a batida incessante nos relembrar que o headbanging não tem necessariamente de significar estupidez. Fabulosa homenagem ao ocultismo e verdadeiramente experimental, Cult of Ruins falha apenas na demência épica de "Bounded by Wyrd" derivado da vocalização de Geneviève a simular uma Jarboe mais feérica e de uma linha melódica que de tanto se esforçar por ser épica (a la Emperor de In the Nightside Eclipse) resvala para a parolice (ainda assim, bem distante de uns Bal Sagoth). Uma notável primeira entrada da canadiana Alien 8 pelos territórios do black metal e mais um documento essencial para se perceber que os labirintos onde se move usualmente o género oferecem ainda inúmeras saídas.


Bruno Silva
celasdeathsquad@gmail.com
10/07/2008