Para quem, como eu, nunca assistiu in loco a um concerto des Les Savy Fav, um banquete pronto a saciar uma fome nostálgica inexistente é capaz de ser uma oferta algo inútil, tanto mais se entendermos que a reputação e vÃcio da banda de Go Forth germina principalmente a partir da eminência delirante entre os rockers em palco e o seu público. Como souvenirs pouco palpáveis da lenda acumulada pelos Les Savy Fav essencialmente em território (underground?) norte-americano, podem sempre ser consultadas fotografias em que a bisarma Tim Harrington (vocalista) parece ter na mão os ânimos da mais inesquecÃvel festa do mundo ou, como opção, escutar o recém-lançado (apenas em formato digital) disco ao vivo oficial After the Balls Drop. Os que quiserem aprofundar a investigação acerca de uma banda que parece ter dedicado tanto tempo ao activo incidente em álbuns como aos lançamentos de porte menor (mas importância equivalente), podem arriscar atirar a moeda da curiosidade ao poço Inches, que, muito organizadamente e de acordo com um plano gráfico temático previamente estabelecido, compila nove sete polegadas (de duas músicas cada) originalmente lançados em igual número de labels diferentes.
Ao que parece, os primeiros sintomas da febre Les Savy Fav haviam sido propositadamente concebidos para encaixe em formatos mais curtos, como pólvora para estoiros isolados. Nem tanto para serem alinhados num rol de 18 faixas cuja longevidade olÃmpica chega a moer o fÃgado além do limite. Ainda assim, os Les Savy Fav, na sua encarnação mais predisposta a satisfazer as necessidades dos fãs, sujeitam o seu calculismo à ameaça permanente de uma ruptura que faz com que os parâmetros rock, após estalarem, passem a ser dominados pelas mais concisas guitarras pós-punk e pelo Ãmpeto puro dos berros de Tim Harrington. Não se descobre nos Les Savy receio de lançar o seu piloto melódico num rodeo rÃtmico agitado por baixo e bateria, ou de submeter um ágil corpo rock aos estÃmulos de uma mente suficiente aberta para aderir a novas linguagens (algumas bem próximas da música de dança). Os Les Savy Fav de Inches são ainda mais credÃveis enquanto o coro de arruaceiros provocadores que proclamava Fuck the champagne, we want Gin! na memorável “Who Rocks the Party?†(o “Fight For Your Right to Party†não-oficial do colectivo nova-iorquino).
Contudo, não há grande volta a dar ao assunto: Inches é feito à medida dos mais esquecidos admiradores incondicionais de Les Savy Fav que, se tivessem sido rigorosamente militantes, tinham agora armazenados nas suas colecções pessoais os nove sete polegadas autênticos. Sem nunca chegar a ser medonho aos ouvidos de quem possa não estar numa de reviver as glórias mais obscuras dos Les Savy Fav, Inches revela momentos perfeitamente datados à medida que se aproxima do fim da sua linha cronologicamente invertida (começa pelo passado recente e termina no mais longÃnquo). Pior só mesmo a dor aguda que se sente a cada vez que a escuta de Inches se torna comparável ao visionamento de uma cassete VHS antiga que encontra os Les Savy Fav no ensaio geral de uma peça onde interpretarão à sua maneira mais libertina alguns dos principais sÃmbolos do catálogo Dischord (Nation of Ulysses, Rites of Spring, etc.). E não são assim tão poucas as vezes em que isso acontece.