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Jamie Lidell Jim

2008
Warp


Não será propriamente o paladino da nova soul. Muito menos a alavanca capaz de devolver a verdadeira frescura criativa à matriz tradicional. Agora não deixará de ser uma das personagens estrénuas com real capacidade de resgatar a soul da enfadada pasmaceira em que encalha sempre que surgem nomes campeões de vendas. Por outras palavras: Jamie Lidell surge ocasionalmente para nos relembrar que existe mais white soul para além dos nomes habituais, para além das Amy Winehouse e das Duffy que por aí proliferam.

Entre uma soul irrequieta, mas de contornos clássicos, há uma alma que acredita na mensagem que a voz veicula. E Jim é prova evidente da eficiência da expressão num contexto soul que não larga as linhagens mais conservadoras. Se Multiply era abrangente e exigente com citações enquanto integrava na sua matriz os tiques tecnológicos que souberam perverter sem causar danos de relevo, Jim prefere exibir contornos clássicos em detrimento de uma suposta inovação que outrora já bafejou o sentimento mais intimista de Lidell. E talvez ai resida alguns dos principais defeitos deste novo disco: alguma indefinição no carácter apesar da eloquência que exibe e da eficiência na expressão.

Não se poderia exigir a Jamie Lidell uma cópia do estilo que Multiply exibiu orgulhosamente, mas talvez alguma provocação face à matriz clássica – que acolhe referências que vão de Stevie Wonder a Otis Redding – e uma maior certeza ou determinação na intervenção da modernidade – como, alias, o fez em boa parte do seu percurso musical. Não serão maus os sinais que Jim transmite, serão talvez ténues e relativamente tímidos que as certezas que o disco anterior transmitiu. Talvez por isso Multiply foi um exemplo retumbante de soul inovadora e Jim fica-se apenas por uma curiosidade que exibe proficiência. Excepção para «All I Wanna Do», sem dúvida a única pérola brilhante.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
05/06/2008