Todo o pudor Ă© desnecessário na hora de frisar o bom nome dos Awesome Color como portadores de tocha rock bem acesa, etiqueta rasteirĂssima e atitude descomprometida geralmente apontada a golpes abaixo da cintura. Serve como prova B a essa tripla acusação o segundo longa-duração Electric Aborigines, espĂ©cie de indĂgena psicĂłtico com a libidinosa herança de Detroit pendurada atĂ© aos joelhos e um apetite por fuzz e abusados riffs apenas comparável Ă fome de Paris Hilton pela tal “herança de Detroit pendurada”. AtĂ© aĂ nada de muito impressionante. O caso muda de figura quando se percebe que os Awesome Color revĂŞem as lições clássicas do rock (Black Sabbath descarado em “Already Down”, Led Zeppelin e os instrumentos exĂłticos em “Come and Dance”) com a curiosidade do protagonista (Xixo) da comĂ©dia Os Deuses Devem Estar Loucos, quando descobre pela primeira vez uma garrafa de Coca-cola. !!!
NĂŁo Ă© de admirar que seja a Ecstactic Peace – a label de Thurston Moore dos Sonic Youth - a proporcionar mecenato editorial aos Awesome Color. O conhecimento enciclopĂ©dico de Thurston Moore, no que respeita Ă histĂłria do underground norte-americano, será suficiente para activar nele um sexto sentido que nutra imediata simpatia pelo trio Awesome Color, que, Ă sua maneira, sĂŁo descendentes tardios e bravos representantes da emenda aditada Ă Constituição do rock dos anos 90 pelos Mudhoney, quando decidiram ir o mais longe possĂvel, sem nunca se levarem muito a sĂ©rio ou tentarem desesperadamente ultrapassar o impacto do single-chamariz “Touch Me, I’m Sick” (cujo mote lĂrico Ă© doentiamente estĂşpido).
AlĂ©m de ser ligeiramente superior ao primeiro disco homĂłnimo (que aparenta ter sido mais apressado na sua concepção), Electric Aborigines serve para proporcionar noites agitadas e um sono mais descansado aos puristas que entendam que o rock deve ainda ser servido sem grandes truques na manga - como uma comodidade (quase) gratuita e incondicional. Faltará apenas o traje ridĂculo a quem quiser ocupar o lugar do forcado diante de um boi espicaçado como Electric Aborigines. Todos aqueles que se estejam a borrifar para o significado e correspondente musical do termo “afro-pop” (muito em voga nestes dias) podem bem encontrar por aqui uma das mais sĂłlidas confirmações do ano.