Quando menos se espera, surgem discos assim: belos, serenos e inteligentes. Música pensada entre o éter e a eternidade, música engendrada à porta do paraÃso. No fundo, sons conjugados nas mais diversas flexões que reforçam a necessidade de invenção de novos tons de prazer para a humanidade. E se dela parte, a ela se destina.
Expandindo as ferramentas do amor a partir do Japão recorrendo a diversos sinais de orientação, e em busca do azimute perfeito, Kuniyuki Takahashi é, à segunda, o mestre da semiótica sonora que – e evitando a redundância – desenvolve a sua própria matriz assente na necessidade de transmitir good feelings nas suas mensagens subliminares. E se é à porta do paraÃso que transmite os bons sentimentos, não deixará de ser num jardim comum que as mais diversas pontas se unem em comunidade e se entendem em nome da harmonia.
Não será desta que surgirão objecções as opções estéticas de um japonês disposto a discorrer em hora e meia de produção todas as tácticas da conjugação de elementos – como o house em em perfeito estado de graça, os sons da selva amazónica, o cheiro da terra africana humedecida pelas chuvas tropicais ou a soul idÃlica – que entram em constante contraste com o crepúsculo por onde radia um jazz inconformado com a sua matriz tradicional. Antes pelo contrário, agora, e talvez mais que nunca, deve-se elogiar solenemente a inteligência de uma escrita cintilante e sedutora e ignorar a existência das inconsequências que inundam o ouvido em dias cinzentos.
Dificilmente será possÃvel ignorar a mestria planante de «Flying Music» ou «My Dear Friend», a convicção rÃtmica de «The Session...», a tranquilidade ancestral de «A Dear African Sky», a ambição sóbria de «Free» ou os delÃrios comedidos de «The Guitar Song». Nada é indiferente neste disco. Nem mesmo a convicção de Kuniyuki Takahashi num futuro onde as novas tecnologias reverenciarão o cheiro da erva depois da chuvada tropical ou o pôr-do-sol num dia de estranha monção. Brilhante.