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Gnarls Barkley The Odd Couple

2008


Na memória ainda perduram os efeitos de "Crazy". Não porque tenha sido uma obra retumbante ou um facto estético de primeira linha, mas por ter sido dos um dos primeiros fenómenos a nascer de uma invulgar combinação de mistério e curiosidade – nascido no myspace – enquanto se recorria ao uso pertinente das novas tecnologias como forma de divulgação musical e auto-promoção.

Ainda há quem discuta a existência de vida para além da primeira amostra ou discuta a pertinência de um primeiro disco nascido à sombra de um êxito gerido, mesmo ao nível da imagem, com mestria invulgar. Para muitos essa discussão será impertinente dado que ingenuidade não foi em nenhum dos momentos a alavanca que accionou o fenómeno. Danger Mouse e Cee-Lo assumiram postura profissional e St Elsewere evidenciou a proficiência de quem tinha objectivos claros, de quem tinha um rumo a percorrer, de quem tinha um bom punhado de temas produzidos com inteligência. E não tendo sido uma obra-prima, não deixou de exibir a ambição.

Dois anos volvidos, os propósitos não se afastam das premissas iniciais, tornando-se agora mais pertinente discutir a importância de um projecto que ao segundo trabalho se apresenta sem a motriz devastadora de um primeiro single forte e indiscutível. Os Gnarls Barkley tornam-se lentamente um projecto vocacionado para singles, deixando cair por terra a ideia de álbum conceptual – que agora se lhes exigiria. Ou seja: revelam agora o handicap de forma evidente. O que em St Elsewere eram apenas inocentes indícios, The Odd Couple resume a certezas. O disco é em geral uniforme, mas dinâmico. Expõe com promiscuidade um contraste entre as certezas soul e r&b enquanto permite que a pop revele a competência esperada para agradar à massa branca de ouvintes que tanto almeja atingir. Um compromisso legítimo que não deitando por terra a matriz tradicional da música afro-americana, nega-lhe ocasionalmente o acesso a ferramentas úteis na composição de canções com maior substância.

A cambalear elegantemente entre prata e o latão, The Odd Couple é uma espécie de disco abrangente que não provoca nem ofende. Diria mesmo algures entre a inconsequência e o interesse momentâneo por um punhado de futuros singles produzidos com a exactidão necessária. The Odd Couple ouve-se com gosto à primeira, mas esgota-se com a rapidez de um pavio de metro. E o problema até será mesmo o facto de não existir nada no fim desse pavio que desencadeie uma reacção explosiva que convença quem esperava por mais.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
17/04/2008


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