Num momento em que Scott Fields é visto como um dos guitarristas mais interessantes do jazz na actualidade, a reedição de uma gravação obscura de 1997 faz todo o sentido. Se Fields se estabeleceu nos últimos anos como um dos nomes mais importantes da guitarra jazz contemporânea, a editora Clean Feed terá tido alguma responsabilidade, já que editou o decisivo “Becket†e acaba de editar um novo Bitter Love Songs. Pelo meio, a recuperação desta gravação de 1997, vÃtima de uma edição de autor com pouca expressão a nÃvel de distribuição, ajuda a direccionar ainda mais os holofotes para um guitarrista que se conseguiu afirmar com uma linguagem muito peculiar e controlada.
Neste álbum, gravado em Chicago, Scott Fields faz-se acompanhar por alguns dos nomes maiores da cena local: Jeff Parker (esse mesmo, o guitarrista dos Tortoise), Hamid Drake e Michael Zerang (percussionistas free jazz habitualmente vistos em projectos de Ken Vandermark e Peter Brötzmann, entre outros) e os contrabaixistas Jason Roebke e Hans Sturm. Este conjunto de músicos forma um estranho sexteto - ou duplo trio - que funciona como duas partes em feliz sobreposição.
O conceito da junção de duas formações não é nova – Ornette Coleman usou um duplo quarteto no histórico “Free Jazzâ€, por exemplo - mas no duplo trio de Fields os músicos funcionam de modo complementar, e não pela sobreposição violenta do conceito de Ornette. Nas sete faixas que compõe o disco (e Scott Fields tem as músicas com os tÃtulos mais longos e originais) há uma noção de unidade que guia a música, e para lá da exigência cientÃfica que rege o som de Fields, há espaço para individualidade dos acompanhantes.
Funcionando como revisão da matéria dada, e analisado em conjunto com os seus mais recentes lançamentos (We Were the Phliks do SF Ensemble na Rogue Art e Bitter Love Songs do SF Freetet, que inclui João Lobo, na Clean Feed), este é mais um elemento na confirmação de um notável guitarrista que dá um novo sentido à palavra “precisãoâ€.