A vulgarização da metodologia desde The K&D Sessions dos mÃticos Kruder & Dorfmeister tem deitado por terra a necessidade – ou imposição de mercado? – de muitos produtores exporem um trabalho de longa duração a uma massa de consumo faminta de quantidade e menos de qualidade. Ou seja: entre o indesejado trabalho de elaboração de um álbum e a exposição ao mercado dos trabalhos mais significativos, criou-se um espaço ambÃguo, mas contÃguo, onde se desenvolveu a ideia “nem carne nem peixeâ€. Por outras palavras: nem álbum nem compilação.
No caso de Live de Henrik Schwarz poder-se-á acrescentar mais um elemento à instabilidade dos conceitos a que nos têm habituado: Nem álbum, nem compilação, nem dj set. A fusão de todos é inevitavelmente a conclusão básica a que se chega. Naturalmente que as dúvidas não ficarão por aqui porque a necessidade de interpretar um conceito obriga a interrogação sobre a sua utilidade. Vejamos: Schwarz reúne um punhado de temas antes editados em pequeno formato (entre eles os excelente "Leave my Head Alone, Brain") e entala-os entre remisturas (entre elas "It’s a Mens World" de James Brown); simultaneamente recorda o passado confinando Sun Ra e Mandrill em passagens curtas e úteis a um set fechado sobre si, mas que procura essencialmente espaços abertos à proficiência e integridade de carácter. Relembremos, a propósito, as semelhanças do conceito de Fabric 36 de Villalobos que, ao contrario deste Live, brilhou com a presença exclusiva de originais – ficando no entanto para segundo plano a qualidade dos mesmos – não tendo por efeito permitido espaço de especulação a terceiros.
Não será outra a consequência que se tira deste desequilibrado conceito reformado em set que não sendo um álbum conceptual expõe sete originais e não sendo um álbum de remisturas recolhe seis reconfigurações para no fim empacotar tudo num live set que servirá sempre como desculpa para a ausência de registos conceptuais mais ambiciosos. Consequência que a história ignorará na carência de certezas. Mais um disco para "abanar o capacete" que se ouve bem mas que se esquece depressa.