Começa a ser redundante apontar a impotência que afecta a Matador na vontade de agregar à sua famÃlia de emblemas (Yo La Tengo, Cat Power, Stephen Malkmus) novos “talentos†e respectivos debutes ou discos pertencentes a uma primeira fase. Até certo ponto, quase parece que a Matador deposita um excessivo zelo (confundÃvel com desespero) na tentativa de interceptar o germinar de uma banda enquanto esta permanece imaculada de hypes. Fica bem a tão respeitada label demonstrar que ainda mantém os olhos bem abertos e os ouvidos bem fechados aos rumores mais tendenciosos.
A partir daqui, todas as questões ficam à consideração dos especializados em fenomenologia que decerto terão uma palavra a dizer acerca do trio Cave Singers e de como este chegou a Invitation Songs sem um conhecimento aprofundado das raÃzes folk (aqui regadas), experiência de maior na prática musical e um guitarrista que pegou no instrumento pouco antes de transpô-lo para a fita. Banha de cobra ou milagre artÃstico condenado a um prazo? Provavelmente, apenas um disco imbuÃdo do espÃrito de acampamento de escuteiro que involuntariamente foi acumulando escassos adereços (o sopro e alguns efeitos atÃpicos) e vendo as suas canções enterrarem-se num lodo incerto entre o esboço e o pleno.
O emperrado estado actual da Matador acaba por ser um assunto muito mais debatÃvel que a própria música dos Cave Singers, que, na sua espontaneidade desarmada, não se esforça muito por evitar o tradicional molde de folk afreakalhada para entoar com as mãos estendidas em direcção à fogueira central (por mais cliché que isso pareça, é a verdade) – não se estranha também que o charme simplório da guitarra e harmónica seja apenas o suficiente à propagação mÃnima destes sons inebriantes pela acústica da caverna. Por sua vez, a voz destemidamente nasal é uma daquelas presenças curiosas que, sem nunca acrescentar real novidade a Invitation Songs, revela o que podia resultar do cruzamento entre os Waterboys e The Knife unidos num mesmo clamor. Além disso, You saw the hole of our mother’s health é um daqueles versos hÃbridos que não soa nada bem.
É verdade que, após ultrapassada a adaptação aos trejeitos vocais de Pete Quirk, sente-se uma brisa quente e hospitaleira à clareira Invitation Songs, enquanto esta prolonga o seu serão de rituais teatralizados e batuques que resgatam aos recém-chegados impulsivas formas de se sincronizarem com o ritmo presente, quer seja batendo palmas ou transformando em mola o pé direito no seu saltitar sobre o chão (nesse tipo de persuasão, a infecciosa “Dancing on Our Graves†é irresistÃvel). Invitation Songs vai semeando adicional familiaridade a cada escuta, mesmo que não disponha de muito para oferecer ao longo da cerimónia a que nos convida.