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Harrisons No Fighting in the War Room

2008
Melodic


No Fighting in the War Room é mais uma daquelas exportações de rock britânico que já merecia a chancela de debute do ano, mesmo antes de se encontrar nas lojas. Os pegajosos hypes fabricados por alguns nichos da imprensa britânica são os mesmos que assolam a sua própria credibilidade e que tornam ainda mais insuportáveis alguns dos supostos “abençoados” por isso. Ficam assim recapitulados os termos gerais da peste que ceifa, logo à partida, qualquer gozo que se pudesse obter ao rock de guitarras caracteristicamente brit, quando esse fede a produto derivado ou requentado. Se a linha verde da ASAE estiver porventura ocupada, estabeleça-se contacto com a karma police para que apreenda de imediato todas as restantes cópias deste No Fighting in the War Room, a cargo de uns Harrisons para os quais a pachorra se esgota como se fosse altamente inflamável.

A verdade é que esta rapaziada de Sheffield contava, num passado recente, com um single simpático – “Blue Note”, também aqui incluído – que, a seu favor, erguia algum carisma e “garra” suficiente para que se adivinhasse um futuro vagamente risonho para os seus autores. Percebe-se agora que a vantagem maior do single incidia precisamente na sua duração limitada que não sobrevivia até ao ponto de se transformar num mórbido aborrecimento. O estômago só começa mesmo a dar dolorosas cambalhotas quando o disco atinge o mais inenarrável dos seus pontos na sebenta balada “Listen”, que tanto arrasta a sua lamúria de estação de comboio que bem podia servir como advertência em relação aos piores efeitos secundários da embriaguez. Mas atenção, por favor, porque os Harrisons reservam também tempo de antena aos protocolares temas de pândega, chegando a brasa a um funk que dá coices ou a um rock a pilhas que pretende criar hinos geracionais através de refrões esfarrapados como a ganga gasta (a gangsta). Com sorte, pode até ser que os Harrisons venham a abrir concertos para os Maxïmo Park em digressão pelo Luxemburgo.

Ainda há quem tente vender os Harrisons como uma espécie de arquivais dos conterrâneos Arctic Monkeys - assegurando que o brio dos primeiros parte de uma genuína atitude rufia e da vivência directa com as ruas traseiras de Sheffield (é uma ousadia alguém apelidá-la de new Sheffield quando não demonstra nada de novo). A diferença residirá provavelmente na escolha do creme facial. Por breves instantes, senti uma saudade incrível dos Oasis. E isso só pode ser muito mau sinal.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
12/03/2008