Se no universo paralelo ao original existe salvas que dignificam a metamorfose sonora e enaltecem a escrita de autor, proporcionalmente também desabam dos céus os inábeis mestres da transformação precoce ou os desfiguradores da ocasião. E se dúvidas houvesse, Piece Work eliminou-as por completo.
Piece Work é a súmula dos trabalhos de remistura do Dj e produtor britânico Ewan Pearson. Mais um desconhecido que granjeou reconhecimento pela forma elementar de enquadramento nas pistas de dança de originais desadequados à s discotecas de provÃncia. Talvez assim se entenda uma certa necessidade transformação prática que envolve a capacidade, vulgarÃssima nos nossos dias, de encetar ritmos e estruturas melódicas lascÃvias adequadas à conjuntura do mercado mas que raramente invocam a criatividade necessária a uma narrativa credÃvel e insofismável.
Entre o electro enchamboado, o techno insÃpido e a house de sorriso post-it, Ewan Pearson deambula desavergonhadamente entre os fantasmas originais com a postura de trabalhador esforçado no hemisférico esquerdo e oportunista industrial no hemisférico direito. Empunhando o rolo de celofane, embrulha tudo o que é artista da moda, arquitectando no trajecto programações desataviadas de orgulho próprio e enchafurdadas nos tiques básicos das pistas de dança. E se os temas a elas se destinam primariamente, nada como procurar na feira do ilhéu o carrinho de choque que enalteça qualquer uma das suas poucas qualidades.
Escute-se a improficuidade da retoma de "Enjoy The Silence" de Depeche Mode, no pesadelo em que se tornou "Psycological" dos Pet Shop Boys ou na degeneração patética de "Outsiders" dos Franz Ferdinand - entre outros desastres - para num ápice se concluir que Piece Work, dilatado, se não mesmo entre o longo e eterno, expõe na arena do circo a loquacidade inútil que nada acrescenta ao original. De positivo pelo menos. Recomenda-se distância para evitar contágios.