A fome de frescura leva a que ronque mais uma vez o estômago quando, acerca da estreia homónima dos Human Bell, se tem todo o à vontade possível para dizer que nada de especialmente novo reverbera a partir desta peça de latão. Compreende-se que o saudosismo nutrido pela Thrill Jockey, em relação ao pós-rock mais livre e descomprometido, aponte a label de Chicago como madrinha afectuosa de um disco guiado por essas coordenadas, mas a franqueza e boas intenções nem sempre se materializam em conteúdo convincente. Dave Heumann e Nathan Bell, os nomes adaptados no trocadilho que sumariza a banda, acumulam até currículos a que se presta sentida continência, mas as medalhas de ontem (obtidas ao serviço dos Arbouretum e Lungfish, respectivamente) nem sempre rendem aos dias de hoje um rock ciente das suas raízes que possa transcender tudo aquilo que já fizeram a esse respeito gente como Howe Gelb (nos Giant Sand e outros tantos) ou David Pajo (mais persistentemente quando disfarçado de Papa M).
Embora chegue a tornar confundíveis os termos “tradição” e “repetição”, Human Bell puxa o lustro a algumas das suas qualidades ao viabilizar toda a calma necessária para que as guitarras de Heumann e Bell possam saborear calmamente um mesmo cachimbo da paz carregado de aromas folk e western, cujos efeitos acabam por tornar mais desprendida e aventureira a peregrinação instrumental de um rock barrento, envelhecido como o whisky no barril. Talvez por ser tão amplo esse seu ângulo de abertura, Human Bell conhece direito a uma "Ephaphatha (Be Opened)" que pode bem ser tomada como sedutora amostra de Crime Jazz do Tibete (definição descaradamente roubada aos Grails).
Bem perto do fim, a honra do convento encontra categórica salvação numa "The Singing Trees" superiormente elevada pelo impulso gerado pelo punhado certo de instrumentos a remar no mesmo sentido bestialmente psicadélico. Desconfiava-se que os Human Bell fossem capazes desta surpresa e ela tarda, mas recompensa os pacientes. Não se estranha, contudo, se alguém se atrever a perguntar por essa mesma altura:Começamos a partir daqui?.A modesta apresentação dos Human Bell não oferece satisfações concretas para essa questão, mas deixa em suspenso o palpite de que, se vier a dobrar mais vezes o sino deste colectivo (que ameaça demasiadamente o cariz de "projecto de disco único"), podem vir a ser bem mais impressionantes e seguras as suas badaladas futuras.