Não serão reconhecidos de imediato pela colecção de originais quando ainda subsiste na memória colectiva a premissa inicial de uma editora obcecada pelos velhos filões. A história e os melómanos estarão certamente gratos pelas recuperações valiosas de documentos musicais esquecidos em prateleiras empoeiradas. No entanto já será mais difícil apontar à Soul Jazz um catalogo próprio de revelações contemporâneas que tenham surpreendido o mundo da mesma forma que as antologias de clássicos. A edição de álbuns e singles de autores actuais existe e não será de estranhar que a Soul Jazz tenha agora decidido expor de forma mais evidente um conjunto de originais com chancela própria como veículo de divulgação.
Poucos lembrar-se-ão de outros nomes para além de Steve Reid, ESG, Rekid ou Sandoz. Mas a lista é bem mais longa se ignorarmos os longa-duração e nos debruçarmos sobre os singles recentemente editados. Os lançamentos em vinil tem sido regulares e têm mantido o espectro aberto a diversas vertentes da chamada música de dança. Talvez por isso Soul Jazz Records Singles 2006-2007, que reúne em dois CDs os principais nomes, esvazie-se a si próprio com a preocupação de tornar-se demasiado abrangente e, por consequência, pouco exigente.
A antologia terá os seus méritos na divulgação de nomes desconhecidos. E na mesma proporção perde pela inconsequência musical que esses mesmos nomes apresentam ao mundo. Do dubstep ao acid-house, do disco ao electro, do funk ao techno, o ritmo está garantido. Já a dialéctica narrativa dos temas perde-se num certo egocentrismo repetitivo que dissolve excessivamente a inventividade pelo tempo. Por outras palavras, uma antologia dupla neste formato torna-se aborrecida quando muitos dos intervenientes se lançam em loops e grooves intermináveis.
Excluindo os excelentes “Misty Winter” dos Digital Mystikz, “Magnetic City” de Kode 9, “Retroactive” de Rekid e os muito interessantes “Kill the Monkey” de Sutekh, “Insane (Tambourine Mix)” de ESG ou “Slum Dunk” dos Tetine, nada de verdadeiramente significante é retido na memória. O que não deixa de ser uma pena numa editora que muito tem contribuido para revivência, conservação e estudo da música perdida no tempo.