Ficam mais eriçados os pêlos quando o perigo parte de quatro japoneses cujos rostos se perdem entre um mar de sintetizadores, bolorentos teclados Casio e restante equipamento vintage avulso, sem deixarem, contudo, de manter à superfÃcie a mesma expressão colectiva maquiavélica - aquela que ameaça a divisão de um átomo maciçamente recheado de ideias. Os Avalon não se ficaram pelo bluff e, no espaço de poucos meses, largaram dois mini-álbuns - Tate House 6 Don’ts e agora 4 Gospels for 2 Testaments - com a força repentina de dois sónicos caças F-16 que sobrevoam rasantes a povoação de Penamacor. O padrão numérico descoberto aos tÃtulos (6-4-2) denuncia a contagem decrescente que há-de terminar num (explosivo?) primeiro longa-duração, mas, até lá, 4 Gospels for 2 Testaments serve perfeitamente para assinalar sublinhadamente que os mais insones ocupantes da música de dança nipónica são também aqueles que de um modo mais obsessivamente nerd a cultivam.
Terei mesmo escrito nerd e dança numa só frase? Diz-me que sim uma controlada noção de que povoa a Terra uma banda londrina chamada Hot Chip que, à s custas da popularidade global da DFA de James Murphy (e de todos os seus amigos), ganharam terreno, um pouco por toda a parte, colocando em prática um mais festivo e aparatoso pós-punk apropriado para reuniões secretas entre rapazes desajeitados em ocasiões sociais mais abrangentes. A partir daÃ, torna-se imperativo referir que os Hot Chip são referência onde tabelam persistentemente os Avalon, com a vantagem de ser este um caso em que o aprendiz supera o mestre e com a diferença dos últimos adoptarem para si um universo que combina o imaginário das lendas de Artur e terminologia cristã. A renovação da fé passa, a partir daqui, por uma cruzada que tem na atraente frontalidade dos sintetizadores a sua espada e numa estruturação inteligente – e sempre estimulante para os músculos - o seu escudo.
Sendo que não escaparão também ao radar comparativo dos Avalon o venerável senhor Giorgio Moroder e a flexibilidade elástica incutida às músicas sem fim aparente, além dos Electric Light Orchestra e a regra que dita que um refrão não o é sequer – na totalidade do seu potencial - quando desacompanhado de uma harmonia com a mania das grandezas.
Registando uma faceta mais vincadamente instrumental dos Avalon, 4 Gospels for 2 Testaments revela-se também mais admirável, em relação ao antecessor, pelos resultados práticos que resgata à ambição a cada vez que uma faixa supera a marca dos quatro minutos e a memória – abalada por todas as alternâncias de ritmo - deixa de ter condições para alegar com certezas absolutas se terá principiado a sua rota num inicial surto de funk robótico ou numa réplica exótica e actualizada da magia convergente dos Yellow Magic Orchestra. Os Avalon rodopiam sobre as suas próprias referências e, com isso, desorientam quem lhes persegue o rasto. No fundo, pode ser esta a recomendável cauda de um Japão que dança alegre sem paramento certo.