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Wzt Hearts Threads Rope Spell Making Your Bones

2007
Carpark / Flur


Não será o facto dos Wzt Hearts provirem de Baltimore a servir como dado decisivo à identificação dessa cidade como um viveiro de talento e música excitante que, através de um discreto associativismo, tem projectado nomes como os Animal Collective, Beach House ou Dan Deacon (mesmo que o último não me mereça grande estima). Baltimore já se manifestava interessante antes do surgimento dos Wzt Hearts (lê-se “Wet Hearts”), assegura a manutenção desse estatuto durante a escuta deste segundo disco dos mesmos e promete continuar a frutificar boas novidades daqui em diante (até porque a saída de Devotion dos Beach House está marcada para breve). No que respeita à proximidade entre os nomes referidos, serão essencialmente dois os pontos de contacto. O primeiro assumido pela label Carpark (associada da Paw Tracks) e o espaço que essa reserva em catálogo para discos impregnados de ideias e das tonalidades que tem o arco-íris. O outro será representado pela monitorização técnica de Rusty Santos e pelas propriedades orgânicas e paradisíacas que privilegia nos discos em que intervém. Mãos aos alto já que Threads Rope Spell Making Your Bones assinala afirmativamente ambos os pontos (Rusty Santos foi encarregue da masterização) e, embora chegue a ser mais tormentoso e tóxico que os congéneres da sua casta, será um documento valioso em termos do panorama que oferece sobre os disfarces que pode assumir Baltimore quando se decide por ser um camaleão.

A natureza do camaleão assenta bem a um Threads Rope Spell Making Your Bones que é também disco rebelde face à firmeza das estruturas corroídas (por laptops que debitam sons granulosos e todo um batalhão de efeitos aliados na obtenção de um ruído bélico). Ao jeito de jam de (des)orientação dadaísta, os Wzt Hearts revelam que é vaga a sua noção de território, tal é a aura dispersa que se descobre à projecção dos instrumentos convocados (entre os quais um Commodore 64 que é declarada máquina de fabricar romantismo de colheita 1987). Chega a ser tão denso o seu marasmo e tão violento o seu braço de ferro entre forças opostas, que os vestígios de vozes quase Mars Volta dissipam-se sem deixar rasto à malha formada em “Lave Nile” (que, convenhamos, não poderia ter merecido título mais conveniente).

Metaforicamente, Threads Rope Spell Making Your Bones assume-se como uma sessão favorável a sete intricados tópicos fervorosamente debatidos entre as condutas de ar e instalações eléctricas de uma estação de metro, sem que nenhum ser humano estivesse por perto para arbitrar a troca de galhardetes. Quem sobre ele aterra, como avião sobre território estrangeiro, sente-se no lugar da avestruz que encostou a cabeça à terra apenas para lhe escutar um irracional murmúrio que, conforme as vibrações, declara maior ou menor perigo. Queremos ver a restante placa dentária de Baltimore agora que já lhe conhecemos um dente tão afiado.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
21/12/2007