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Portable Powers of Ten

2007
Süd Electronic / Flur


O título não deixa de sugerir força, poder e de certa forma ambição. Nada de errado para quem deseja atingir novos vectores criativos numa conjectura dominada pela facilidade tecnológica e pelo uso abusivo de velhas fórmulas. Não se estranhe por isso a obsessão de muitos estetas na corrida pela inovação e consequente desconstrução de paradigmas.

A realidade não deixará de ser interessante se se atender ao pormenor que raras têm sido as ocasiões de verdadeira perversão do sistema; especificamente no caso do techno ou do house, poucas têm sido as situações que permitam conclusões definitivas e concretas desse processo de falência dos velhos ideais de 90 e a instauração de linguagens novas, eficazes e capazes de alimentar não só os melómanos, como também atribuir novo impulso estético ao novo milénio. Como da ambição mais puritana ao excesso de retórica vai um passo relativamente curto, existirá sempre quem transforme a necessidade numa cruzada com pecados desnecessários.

Numa verdadeira encruzilhada de referências, o projecto do sul-africano Alan Abrahams, Portable, torna-se num interessante caso de análise quando as suas confusas semânticas sonoras aludem a alguma sabedoria popular e aspiração técnica enquanto se compõem mistos de sentimentos que tanto poderão ir da angústia à euforia. Ou seja, Powers of Ten é uma amálgama robusta de boas ideias perdidas na obsessão de edificação de novas e funcionais fórmulas de programação enquanto procura a essência que justifique todas as intenções. A bifurcação é o elemento desequilibrador de Powers of Ten.

Podemos certamente acreditar que o jovem sul-africano a residir em Portugal tem as melhores intenções quando se apresenta com um renovado espírito académico. Mas o excesso de retórica é uma pedra no sapato que não permite a convergência do saudável ideário pop com a ambição de um techno de mais-valia estética. Mesmo comparável ao magnifico Asa Breed de Matthew Dear ou o oblíquo The Waiting Room de Chloé, com atilhos pontuais com o imaginário de Brian Eno, o romantismo dos Depeche Mode ou as vocalizações de Andrew Eldritch, Powers of Ten não prova de forma retumbante o seu propósito nem demonstra grande interesse na construção de grandes canções, mesmo quando tenta fazer da especulação a arte principal.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
19/12/2007