É principal, entre os motivos que legitimam a criação musical da vaga nova-iorquina pontificada pelos Animal Collective, Excepter ou Gang Gang Dance, aquele que os iliba de alguma vez terem sido descaradamente oportunistas na perseguição de um delirante sentimento de dança à volta da fogueira porque assim lhes convinha – isto porque a toada mais tribal exteriorizada por esses nomes parece ter emergido espontaneamente mais do que por planeamento antecipado. Sem que tivessem descartado a hipótese de namorar uma pop muitas vezes esotérica, nunca houve quem caÃsse na esparrela de emular um exotismo plástico aproximando-se da caricatura grosseira que conhecemos a êxitos dos anos 80 como “Tarzan Boy†dos Baltimora ou “Club Tropicana†dos Wham!. Os resultados poderiam até ser proveitosos, mas, a prazo, intoxicariam de kitsch a palete musical dos tais colectivos. Os Yeasayer, oriundos de uma Brooklyn que conviveu de perto com os supracitados e com as produções do membro dos TV on the Radio Dave Sitek, respondem que sim a essas influências imediatas, porém gerando resultados demasiado denunciadores de premeditações várias: o disco de estreia All Hour Cymbals soa a empreendimento de quem sabia com seis meses de avanço que pinturas de guerra haveria de usar no rosto (e na música) para mais apto estar quando chegasse o momento de cruzar uma possÃvel ramificação do rock dos Violent Femmes e a world music de paÃses africanos como a República do Mali (o exemplo é assumidamente “Damon Albarnianoâ€). É, pois, nesses termos que se revela a manha de uns Yeasayer demasiado tardios no timing da sua estética hÃbrida.
Leva a mais algum cepticismo o facto de uma substancial parte não-rock dos recursos instrumentais englobados em All Hour Cymbals fazer com que este sobreviva insuspeito numa divisão de vulgar música étnica, quando o mesmo não se passaria com qualquer um dos mais adorados discos pertences às bandas já mencionadas (inclusive os Wham!). Talvez assim seja porque All Hour Cymbals soa a autêntica world music quando se mantém dentro da sua verdejante redoma instrumental e porque não fere sensibilidades mais frágeis quando se decide a trincar a tentadora maçã rock. A verdade é que um qualquer documentário da National Geographic, referente aos hábitos de uma tribo amazónica, adquiriria a aparência mais experimental de uma curta-metragem de Stan Brakhage se tivesse como banda-sonora uma faixa seleccionada a Here Comes the Indian dos Animal Collective ou God's Money dos Gang Gang Dance (ambos discos marcantes e destinados a ecoar a sua influência). Viesse a porção mais normal de All Hour Cymbals a adaptar-se a um documentário e haveria certamente quem nem sequer pestanejasse. É verdade que, actualmente, a televisão que não estupidifica também incorpora nos seus formatos linguagens menos habituais e isso pode ameaçar a distinção atrás estabelecida, mas os Yeasayer aparentam estar ainda muito "tenrinhos" no que respeita à identidade da sua faceta mais étnica.
Essencial acaba por ser a necessidade de clarificar que All Hour Cymbal só tarde - mais precisamente na sétima faixa "Forgiveness" – desperta mais abertamente para a fusão entre o seu Ãmpeto tribal e o risco com que esse pode ser conjugado. Mesmo quando o faz, fracassa na elevação da mente até aos pontos transcendentais a que conduziram discos que, assim que localizam os ouvintes nesse estrato sensorial, convencem muito facilmente a que alguém dance nu ou coma bagos que não ingeriria se perfeitamente consciente. Formando um paradoxo, pode-se dizer sobre All Hour Cymbal que é um disco imaturamente indeciso e, mesmo assim, tangencialmente equilibrado nos ânimos que funda – hesita entre a vontade de produzir singles forçadamente estranhos e a oportunidade de exercitar um mais livre arrojo, atravessa em digressão uma série de ambientes de celebração que parecem ocorridos em localidades distintas do mapa Yeasayer. Fosse um LP de duas faces em vinil, e muito mais funcional seria aquilo que nele destoa. Preso à vulgar condição de CD, é escuta para manter em dois tempos – um por força do primeiro assomo de curiosidade e outro moderado pela desconfiança de que nada de surpreendente por aqui se passa.