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DJ Krush Shinsou - The Message At The Depth

2002
Sony


Não restam dúvidas de que o hip-hop consiste numa das cenas com mais força na actualidade. Seja ele mainstream ou underground, old-school ou apontando novos caminhos, está definitivamente em voga numa fenómeno que ultrapassa barreiras de todo o tipo: geográficas, estilísticas e as que mais houverem. Exemplos disto são o facto de gente como Mike Skinner (The Streets) já ter mostrado que não há que ficar de pé atrás em relação às rimas com sotaque britânico, e grupos como Antipop Consortium serem capazes de redireccionar o género por trilhos paralelos. Nada garante, hoje, que representem linhas de orientação capazes de sobreviver para além do contexto da sua criação, mas não deixam de reflectir o estado de ebulição de todo um fenómeno.

Falando de hip-hop, DJ Krush é um dos poucos japoneses que lograram atingir plano de destaque à escala universal. Com uma carreira solidificada ao longo de sete álbuns (lançados à cadência regular de um por ano), decide agora baralhar um pouco o seu público. Shinsou é mais que um exercício sobre o previsivel; é um álbum extraordinariamente denso e rico em incursões diversas à base sobre a qual ganha forma. Breakbeat e techno mais ou menos experimental são a nota dominante em quase todos os pontos mais altos de um disco que em momento algum chega a ser directo, cru. Principalmente nos instrumentais, há sempre motivos e progressões por trás da acção principal, assegurando a fluidez de cada tema e a ausência de inconstâncias facilmente assinaláveis.

Nomes como Antipop Consortium, Anticon, Opus e Sly and Robbie dão uma (grande) ajuda e Krush consegue uma cadeia de temas muito fortes, quase até ao final do álbum. Quase.

Quase, porque o último terço do disco acaba por ser o “elo mais fracoâ€, deitando por terra a sensação de homogeneidade até aí transmitida. Era perfeitamente escusado colaborar com uma vocalista possuída por tiques tão Britney-Spearianos como a Angelina Esparza que surge em “Truthspeakingâ€. À semelhança do que acontece com última música (haveria, de certeza, forma mais feliz de fazer representar o dub), é um momento que, embora não comprometa de forma irreversível o caminho percorrido, acaba por resultar de forma nefasta devido ao seu carácter desfasado de toda a orientação do disco, impedindo-o de progredir uniformemente do princípio até final. Tudo isto, partindo do pressuposto que Krush não aspira à MTV.

The Message At The Depth é indubitavelmente um dos melhores discos deste ano. Poucos terão conseguido abraçar tantas correntes de forma tão intensa e, ao mesmo tempo, equilibrada, apesar de um ou outro percalço. Convence plenamente, e tocará a grande maioria dos amantes da electrónica, não deixando de agradar aos adeptos do hip-hop.


Carlos Costa
08/12/2002