Na série de livros e colecções de postais que dedica à moda que transborda nas ruas de Tóquio, a editora Phaidon (http://www.phaidon.com) tem a preocupação de perguntar a cada um dos seus modelos espontâneos acerca do traço de moda que o distingue da turba. Em Fruits e no mais arrojado sucessor Fresh Fruits, encontram-se dezenas de fotografias em que os japoneses que fazem da rua uma passerelle surgem com trajes cujas cores e combinações ultrapassam muitas vezes a capacidade de compreensão do ocidental comum. Mas, conforme era referido de inÃcio, o salvaguardar da individualidade estaria assegurado se o point of fashion fosse suficientemente único. O novo gótico renasce se bordar as suas próprias calças, a lolita pop depende da boneca de pano que traz consigo para não ser mais um clone, a quadrilha de punks não tresanda a Londres de 77 se a imaginação encontrar localização inédita para o alfinete de dama. Pela mesma tabela, aceita-se que estes Avalon vivam deslumbrados e decididos a seguir os Daft Punk e, por arrasto, os Justice, reproduzindo as mesmas linhas de sintetizador convictas da sua grandeza, mas assinalando a identidade japonesa – e evitando, no limite, o decalque - sobrecarregando tudo isso com as tais marcas de estilo próprio. Como se sabe, pincelada que carrega o toque excêntrico pode ser a mais determinante.
Pese embora algum conteúdo derivativo que se encontra no mini-álbum de estreia Tate House 6 Don’ts, o quarteto japonês Avalon indica que teria sido errada a decisão de manter desintegrada a banda conforme a vontade que pesava pouco antes do registo ter sido gravado entre Maio e Julho deste ano. O colorido arsenal dos Avalon redundaria no indescritÃvel borrão se não conhecesse a bem doseada orientação do principal compositor e produtor Yosuke Kotani - ele que descobre um interdisciplinar trilho (na medida em que integra instrumentação rock e electrónica pura) entre o modernizado hino disco “Do’s and Don’ts†e a salada de órgãos que brincam aos clássicos no instrumental “For the Tate House Aviatorsâ€, sem que alguma vez pareça forçada a inclusão dos desgovernados sintetizadores Yamaha e das drum machines programadas de modo pouco ortodoxo. Sentem-se a Tate House 6 Don’ts os ecos do seu entusiasmo juvenil que não teme percorrer todos os seus ingredientes em jeito de maratona cosmopolita - formato esse que Towa Tei e Yasuharu Konishi, através das avultadas vendas obtidas com a antologia A Life of City Boys 1992-1995, entranharam bem fundo na predilecção japonesa.
No fundo, a pertinência do objecto acaba por o tornar comparável ao lápis que, numa famosa anedota, trazia atrás da orelha o servente de obras que se fingiu carpinteiro, com o exclusivo intuito de diversificar a vida sexual da sua mulher insatisfeita com a monotonia. Não quer isso dizer que Tate House 6 Don’ts se limite a ser o instrumento de que depende uma anedota que se queira triunfante. O primeiro mini-álbum dos Avalon merece uma mais digna reacção nem que seja por constituir uma ilha a partir da qual se observa perfeitamente como o mais sofisticado Japão absorve os fenómenos além-fronteiras e os transforma em muito recomendáveis produtos seus. Venham a livrar-se da tendência para reproduzir quase exactamente o perfume da música mais dançável francesa, e o valor dos Avalon poderá muito facilmente transcender o da mera ave rara.