Longa vida a todos os Ădolos que eram sentenciados Ă morte por aquela t-shirt que Axl Rose gastou de tanto vestir na digressĂŁo mundial de Use Your Illusion. O melhor talvez seja aproveitar a distracção que provoca em Axl Rose o eterno dilema Chinese Democracy e furtar-lhe apenas esse tĂtulo convidativo – do disco bipartido dos Guns n’ Roses - para descrever, com a exactidĂŁo possĂvel, o que se passa no profundo mar que o experiente Brad Rose tornou amplamente onĂrico mineralizando-o com todo o tipo de especiarias acĂşsticas e instrumentos perfumados de incenso espiritual. Use-se entĂŁo a tal ilusĂŁo para, atravĂ©s de total desconexĂŁo com o piso terrestre, obter o click transcendental a que tanto ajuda a corrente indeterminada assumida pelo mar Exquisite Idols.
O prĂłprio Brad Rose merece toda a idolatria que lhe possa ser dedicada, tal Ă© o seu conhecimento enciclopĂ©dico em termos da mais expansiva e distante folk que tem nesse termo o possĂvel ponto de partida e sĂł muito raramente a direcção da sua chegada. O caudal de sabedoria aumenta regularmente na web-zine Fox Digitalis e a formação de famĂlia afectiva verifica-se numa Fox Glove que bem recentemente atĂ© arriscou uma recomendável aquisição nacional. É compreensĂvel que Brad Rose, em defesa da aura misteriosa que tanto o favorece, procure deflectir a admiração no sentido dos seus prĂłprios Ădolos requintados neste seu primeiro álbum, assumindo The North Sea como nome.
Requinte orgânico e polpa sonora silvestre sĂŁo elementos básicos (como água, terra e fogo) nas baças águas de Exquisite Idols, que atĂ© afiança a sua natureza de oportunidade Ăşnica ao manter aberto o portal durante apenas 35 minutos que, inexplicavelmente, parecem um instante e uma eternidade. Lá ao longe, onde o eco e os efeitos conspiraram um transe-casulo, tudo Ă© possĂvel: ouvir, entre os passarinhos Disney, a voz de Roger Waters (Pink Floyd) ao fundo de um poço de porcelana em “Guiwenneth of the Green Grass”, escutar um debate contĂnuo entre um Minotauro e uma Manticora ao drone mitolĂłgico de “We Conquered the Golden Age”, descobrir revelações bĂblicas ao banjo imaculado de “Take it From Me Brother Moses” (Sufjan Stevens no corpo de Richard Youngs), ensaiar com sereias posições mais elaboradas do Kamasutra ao som da envolvente e flutuante raga indiana de “And Then the Solstice Disappeared”. Exquisite Idols pode bem servir como tratamento termal caseiro a quem ande sem tempo para passar uns dias no Luso. Morte ao Axl Rose, longa vida ao abençoado Brad Rose.