Ao quinto álbum (e terceiro para a Sub Pop) os Kinsk, o quarteto de Seattle, voltam a dar mostras de que, num mundo demasiado aborrecido entre tributos soporÃferos a Daydream Nation e devotos aos psicotrópicos via shoegaze ensonado, não está neles a salvação do chamado space-rock. Para uma banda cujo maior valor sempre esteve na apropriação de referências alheias (por vezes com bons resultados) e numa (pouco salutar) incoerência estética a roçar a banalidade, não deixa de ser curioso um certo culto (afinal de contas até estão na Sub Pop) em volta de 4 músicos, que se por vezes conseguem óptimos temas (conferir no anterior Alpine Static), grande parte das vezes não passa de simpática e desesperadamente mediana. Down Below It`s Chaos é incapaz de alterar esta situação, e se é verdade que ninguém esperava uma obra-prima, não deixa de ser um tanto ou quanto triste ver uma banda com algum potencial para momentos explosivos e que tem revelado uma crescente maturidade ao longo dos últimos 10 anos, voltar a cair repetidamente nas suas próprias armadilhas, e resignar-se à sua reverência aos seus Ãdolos (Sonic Youth, Spacemen 3, Live Skull) ao invés de trilhar um caminho próprio (quando se aproximaram mais de tal feito foi em no split partilhado com os japoneses Acid Mothers Temple).
Não obstante, Down Below It`s Chaos será suficientemente digno para agradar a todos os seguidores da banda e consegue alguns momentos de interesse, embora esteja uns furos abaixo dos anteriores álbuns gravados para a Sub Pop. Um dos motivos que também não ajuda a que o álbum floresça na sua plenitude é a produção cristalina de Randall Dunn (Earth, Boris) que, se por um lado é benéfica nos momentos de maior placidez, por outro faz com que os momentos mais explosivos percam força e se fiquem por ventos fortes ao invés das esperadas tempestades. Como já se tinha vindo a revelar de forma tÃmida anteriormente, aqui vemos a banda a abraçar com maior incidencia o rock espacial dos anos 70, como é desde logo notório na faixa de abertura "Crybaby Blowout", onde sobre um riff estranhamente reminiscente dos Kyuss, se espraia um solo de guitarra afogada no fuzz tão tÃpico dessa década, ou na psicadélica "Argentina Turner".
"Boy, Was I Mad" é efectivamente o primeiro grande tema do álbum, conjugando habilmente os fantasmas dos omnipresentes Sonic Youth com aridez do stoner rock e mesmo alguma candura que não destoaria em Comforts of Madness dos Pale Saints, num todo (quase épico) de 7:30 apropriadamente dinâmicos. A testosterona indie de "Passwords & Alcohol" e os riffs quase hard-rock (com direito a solo clássico) de "Dayroom at Narita Int`l." trazem-nos pela primeira vez na história da banda a desinteressada voz de Chris Martin (escola Stephen Malkmus), resultando em satisfatórias aproximações ao formato canção. Bastante superior é "Plan, Steal, Drive", que passa do delay aquático ao fogo de artifÃcio da distorção e bateria galopante, sem cair na rotineira previsibilidade do post-rock. O rock directo e garageiro de "Punching Goodbye Out Front", funciona quase como um interlúdio para o final se fazer com os nove minutos de "Silent Biker Type", que segue a fórmula dos anteriores épicos, mas incidindo no psicadelismo, sem que o resultado seja memorável. Como acaba por ser em última análise, este álbum, e não querendo ser ofensivo, a própria banda.