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Elastic Void Elastic Void

2002
Mono¨Cromatica


“Also available on earthâ€. A frase encontra-se nas promos que acompanham o disco e, excluindo agora a sua originalidade, vamos encarar esta “earth†como Portugal e a imagem que se encontra por baixo (podemos vê-la na capa do disco), como o planeta Terra. Não deixa de ser interessante pensar que Portugal não parece ser o país a que o disco pertence. O som poderia pertencer perfeitamente a uma nova cena europeia, sobretudo alemã, que apesar de ainda estar relativamente escondida começa a despontar em massas consideráveis pelo mundo fora. Para além disso, o pacote do disco é de extremo bom gosto (digipack) e o inglês usado parece querer apontar para uma internacionalização.

Mas a frase vista sobre o prisma conjugado não deixa também de ser triste. Triste porque uma carreira lá fora seria merecida e certamente mais (re)conhecida, o que não acontece verdadeiramente. O esforço da editora é grande mas os ecos ainda não são mundos e – acreditem em mim – todos deveriam ouvir este disco. Isilda Sanches dizia em frase inteligente e divertida que “fazer música em Portugal é, hoje, um pouco como pertencer à aldeia Astérix, só que com menos sentido de orgulho e sem as jantaradas do finalâ€. A ideia parece ser esta, e a recente editora Mono¨Cromatica quer alterar as coisas, e vai cada vez mais no bom caminho.

Como sempre, e porque as máquinas ainda não fazem música sozinhas (apesar de caminharem para lá) existe um homem por detrás do projecto Elastic Void. Rui Mário Alves Gato Moura Guedes, mais conhecido por Rui Gato, estudante de arquitectura e sound designer, ocupa o seu tempo com sem número de coisas. Entre Elastic Void, Outersites, plat|::|form e sabe-se lá mais o quê, Rui Gato apresenta-se ao público num disco que convence, e que faz acreditar que o melhor da sua produção pode ainda não ter chegado.

A música (sem voz) é caracterizada por uma busca sonora ao fundo de um baú conflituoso e perdido no tempo, como se estes sons não fossem de hoje, e estivesse perdidos algures entre o passado e o futuro. A concentração de diversos elementos nas músicas é mais que evidente e numa estilística de corte e colagem acaba por aparecer um ritmo main que não sendo muito perceptível (admito que possa não ser propositado), acabe por guiar as músicas. O som é vanguardista, não é “aportuguesado†(isso é bom ou mau?) e alguns dos temas presentes poderão ser encaixados por alguns em domínios dançantes.

A verdade é que uma viagem nestes sons nos faz pensar na finitude musical internacional que nós não gostamos de ter. Às vezes é bom que os outros gostem de nós, esperemos que isso se passe aqui.


Tiago Gonçalves
tgoncalves@bodyspace.net
04/12/2002