bodyspace.net


Cobblestone Jazz 23 Seconds

2007
!K7


Vivemos num mundo complexo, cheio de nuances em constante mutação, formas que se metamorfoseiam em novos feitios ou conceitos que se multiplicam para além do horizonte do entendimento. A própria condição humana força a constante transfiguração como resposta alternativa à estagnação. Não será de menosprezar a imaginação como instrumento vital na catalisação do processo. Criar é a palavra de ordem desde que a humanidade sentiu necessidade de instrumentos para facilitar as tarefas do dia a dia. Assim foi e assim haverá de continuar a ser até que a tecnologia deixe de ser a aliada ideal do homem.

Não se estranhe a volatilidade com que tudo muda à nossa volta. As inconstantes na equação aumentam, as probabilidades, por vezes, pouco valem como estatística ou voltímetro das energias criativas. A moda ou a música são, enquanto artes, pólos que sofrem alterações, evoluções e reformas estruturais. Talvez a arte se reconsidere mais vezes que a ciência que, como resultado do pragmatismo, observa na lógica matemática a única certeza num universo ainda por explorar.

Em 23 segundos seria completamente impossível resumir qualquer percurso. Em 23 segundos não seria sequer viável a exposição conveniente e convincente de todas as transformações por que a humanidade passou, muito menos equacionável o compêndio da história. No entanto será possível que os mesmos 23 impossíveis segundos possam ser, no reino da imaginação, o tempo suficiente para os delírios inteligentes que empacotam a essência humana numa fracção, a improvisação no acto instantâneo da criação ou a sensibilidade no instante de uma sexagésima parte de um minuto.

Assim poder-se-á entender o sentido que os Cobblestone Jazz empregam na viagem inaugural onde tempo e espaço comungam em promiscuidade com a faculdade de programar enquanto procuram alguma complexidade no acto de improvisar. 23 Seconds fará as maravilhas de quem tem do techno minimal a única explicação para os longos delírios de 10 temas. A verdade poderá ser diferente se se procurar outro pilar que, mesmo admitido de que se trata de um techno despojado de artifícios, possa explicar a existência de singular registo – onde também convivem o dub e o breakbeat – num universo de música inteligentemente erguida a partir da arte de concepção e improvisação do jazz. Para que não haja dúvidas, não se trata de jazz, mas sim da capacidade de organizar os sons no tempo e no espaço como talvez o jazz faria.

23 Seconds provem do Canadá e expõe em duas faces Danuel Tate, Mathew Jonson e Tyger Dhula como elementos produtores de uma obra de estúdio que respira liberdade conceptual – onde outros do mesmo meio poluem com frivolidades inconsequentes e incompetentes – e como manipuladores de novos conceitos techno/jazz ao vivo (inspiração Bugge Wesseltoft?). Em 23 Seconds o efeito hipnótico das espirais caleidoscópicas reserva momentos raros de transe onde a condição humana não é substituída por infindáveis ligações mecânicas ou bites e bytes em excessos repetitivos. 23 Seconds é em muitos aspectos a evolução da consequência do encontro da matemática sonora dos Metamatics (no início), da experiência techno-jazz humana de Jonah Sharp no Spacetime Continuum de Emit Ecaps e da sabedoria geométrica da velha escola IDM. Ou seja, uma consequência natural da mutação da memória e da destreza de alguma inovação. Um momento inteligente e complexo que servirá competentemente quem procura soltar as amarguras na pista de dança ou opta pelo sofá para espantar os espíritos alienígenas.


Rafael Santos
r_b_santos_world@hotmail.com
01/11/2007