A história não perdoa. Se nada faria supor o sucesso de Born Slippy/NUXX, nada faria querer que um tema pudesse ser tão ruinoso para um projecto que não ambicionava o estrelato do dia para noite. Um projecto com consciência da sua existência no universo, na sua essência, com capacidade de utilizar a matéria cósmica na busca profÃcua da luz num qualquer buraco do espaço. Um projecto que viu estilhaçado, por vontade própria, uma filosofia musical com potencial grandioso.
A intensidade de Dubnobasswithmyheadman (1994) semeava à sua passagem momentos voluptuosos onde a consciência bucólica encontrava o degrau para as imaginações épicas do sonho urbano. Sonho interrompido pela eficácia de um remistura que criou pólos magnéticos excessivos e que terá deixado a bússola de Karl Hyde, Rick Smith e Darren Emerson num frenético rodopio e sem azimute determinado.
O nervo conceptual e a mesma inspiração que tecera obras inesquecÃveis como Sky Scraper, Dirty Epic ou Cowgirl, anos antes, diluÃa-se numa promiscuidade rÃtmica excessivamente hedeonista, distante do niilismo que Dubnobasswithmyheadman por vezes evocava. E embora nunca tenham produzido um mau disco, os dias de A Hundred Days Off (2002) acabaram por ser os momentos em que as almas de Rez tomaram consciência da ausência de estratégia para além das actuações ao vivo. Ausência essa que acabou por lançar a banda para um impasse que acabaria por se agudizar com a saÃda de Darren Emerson que, anos antes, dera novo e importante fôlego para a criação do sumptuoso terceiro disco de originais.
Agora em 2007, e aparentemente recuperados, Karl Hyde e Rick Smith aspiram à conciliação com o passado distante ou, num nÃvel espiritual, com o possÃvel desejo que deixaram escapar por entre os dedos da mão. Oblivion With Bells não é Dubnobasswithmyheadman, mas talvez seja o mais parecido no ângulo da concepção, na elaboração pragmática da sua sonoridade tipicamente densa, obscura e melancólica - com inspirações entre Eno, Nick Drake ou Can - ou na perseguição fugaz da gramática pop ou da semântica rock ou até mesmo na concepção gráfica da capa. É uma fórmula - com algumas sofisticações de Beaucoup Fish(1999) - que não deixará ninguém boquiaberto ou desejoso de exageradas audições. Nada como algumas escutas merecidas para que se redescubra a eloquência da construção épica que só mesmo o techno inexacto dos Underworld sabe gerar. Um regresso saudável aos dias da génese ou o fim declarado da resaca? O futuro dirá.