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Jenny Hoyston Isle of

2007
Southern / Sabotage


Sem deixar de ser altamente irónico que se verifique uma vez mais o cruzamento de dois nomes demasiadas vezes associados por força de algumas artimanhas electro que colocam em prática, é fatal constatar que Kathleen Hanna das Le Tigre e Jenny Hoyston das Erase Errata ocupam sentidos inversos da via que vai sendo prolongada à medida que evoluem as carreiras musicais de cada uma. Inversos por efeito de ter Kathleen Hanna despertado para as muito mais populares Le Tigre a partir do projecto de armário Julie Doiron e, em movimento contrário, ter Jenny Hoyston chegado ao intimismo dos discos em nome próprio depois da mais global estadia nas Erase Errata que – muito honrosamente - contam com um split ao lado dos Black Dice e com o aval dos Sonic Youth muito por influência de Kim Gordon (que mantém quase em segredo as Anxious Rats em conjunto com quem assina o disco aqui apresentado). Entre o período Erase Errata e a maturidade autónoma dada a conhecer em Isle Of, ficam também inseridos alguns discos sob o desígnio de Paradise Island e a sessão gravada propositadamente para a série de edições limitadas Latitudes, que, de resto, accionou a vontade de dar continuidade à actividade a solo.

Enquanto consequência directa do que se descreve nas linhas anteriores, Isle of situa-se – com 23 minutos - no limite entre o formato EP e LP, procurando para si uma consistência que não denuncie demasiado esforço. Conforme indicia o seu nome, é um disco-arquipélago que aglomera canções em forma de porção representativa de uma entidade pessoal maior. “Send the Angelsâ€, por exemplo, restringe-se à penúria simplória da voz e guitarra acústica e, mesmo assim, consegue atribuir alguma dimensão a um sujeito feminino (que pode ou não ser a própria Jenny) que fracassava na escola por perder noites a apanhar “mocasâ€. A própria “Kill Those Thoughts About†e a sua tosca repescagem da melodia universal cantada em dias de aniversário compõem um momento propositadamente cru e inacabado, muito próximo dos que abundam no homónimo e único disco conhecido ao já mencionado projecto Julie Doiron. Percebe-se, a partir da leitura diagonal dos esboços agrupados, que era intenção de Jenny Hoyston traçar um perfil de sinceridade muito mais seu e dos convertidos, do que propriamente assimilável pelos curiosos casuais.

Com isso, fica a ganhar quem tenha como insaciável a fome dos vários desdobramentos que assume Jenny Hoyston: Erase Errata, Paradise Island e em nome próprio. A validade eclética de um disco como Isle Of prova, contra todos os estigmas, que pode reinventar-se em doze canções alguém que tem o seu lugar assegurado nos ramos avançados da genealogia riot grrrl. Embora fique um pouco aquém de ser suficiente como álbum digno desse título, Isle Of oferece pistas de sobra para manter sob escuta atenta o nome de Jenny Hoyston.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
18/10/2007