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Limmat Municipal 44

2007
C0C0S0L1DC1T1


Com o advento dubstep, conduzido de boca em boca um pouco por toda a parte, voltou a ganhar força aquela noção de que um disco incidente em componentes electrónicas sugestivamente escuras podia ser o equivalente sonoro da experiência visual que oferece a panorâmica nocturna de uma grande cidade. O homónimo álbum a cargo do excepcional produtor Burial, porta-estandarte do dubstep, chegou várias vezes a ser comparado a um voo planante sobre Londres envolvida em smog. Sem tentar perseguir qualquer tendência de memória recente e atendendo a que sua demorada gestação de 3 anos até o impossibilitaria de tal, Municipal 44 enquadra-se nessa divisão paralela de discos desenvolvidos como levantamentos de esquemas urbanos obtidos a partir de ângulo cimeiro. Coube tal tarefa à dupla Limmat: Ian Heywood e a metade encarregue das componentes visuais, Graham Clayton-Chance.

Foram eles que reconheceram muito perspicazmente o potencial elevado que pode oferecer a transformação em música de uma utopia urbana derrubada em três fases: uma primeira conspirativa (identificável aos detalhes da faixa inicial “Frogsledgeâ€), a subsequente etapa instalada pelos motins que representam “Firstelectro†e “Kolab112†(que até conta com a progressão de um bleep em andamento de bomba-relógio) e a derradeira desgraça sucedida conforme os termos que se detalham de seguida. Será provavelmente "Station44" a faixa encarregue de registar o momento exacto de pânico que estalou quando um surto virulento de ritmos descobriram no redobrado impacto do electro a melhor estratégia para que ninguém equacione sequer armazená-los em quarentena ou mixtape de outrem.

Sem deixar de abandonar o aspecto composto de um objecto de arquitectura (confirmado pelo artwork e DVD anexo), Municipal 44 ferve em pouca água, abandona todo o calculismo na segunda fase impregnada de beats ao serviço do sufoco, larga chamas pelas narinas techno numa "Citrus" que deixará perto do orgasmos os mais sensíveis piromaníacos. O 44 arma um 31 a partir de uma electrónica de persistência. Pode-se mesmo dizer que por aqui andará o tipo de música alucinada que Spud, personagem da pandilha Trainspotting, andará a ouvir por esta altura se ainda se encontrar vivo e a viver numa metrópole sem espaço para jardins.


Miguel Arsénio
migarsenio@yahoo.com
16/10/2007