Para alguns, as mudanças surgem no momento mais inesperado – e por razões igualmente imprevistas. O contacto com alguma fonte repentina pode muitas vezes mudar o rumo das coisas. Jerry Johansson, que fez carreira musical com grupos rock e de jazz na guitarra, viu a sua vida dar uma volta de 360 graus quando teve contacto com uma composição de George Harrison numa canção dos Beatles. Seguiu-se o estudo da raga indiana e da sitar. Ao que se sabe, o estudo do instrumento levou inclusive Jerry Johansson a adoptar um estilo de vida distinto, para além da prática diária da sitar, algo compreensível tendo em conta a história do instrumento e espiritualidade inerente ao mesmo.
Next Door Conversation é uma obra composta para sitar, tambura e quarteto de cordas (da Gothenburg Symphony Orchestra). Ao longo de duas peças de mais de 20 minutos, Jerry Johansson propõe-se a misturar as tradições musicais da Índia com as do seu país natal, a Suécia, especialmente no que à folk diz respeito. Mas por razões óbvias, são as impressões indianas que mais se manifestam neste disco, muito por culpa da técnica Jerry Johansson no instrumento. O próprio quarteto de cordas, na sua abordagem às composições, acaba por sublinhar a presença do país asiático. A primeira parte de Next Door Conversation é especialmente intensa quando as cordas e a sitar entram em confronto, aumentando a intensidade do encontro.
No segundo momento do disco, mais plano na sua evolução, consegue os mesmos momentos de beleza, nomeadamente nos momentos em que, mais uma vez, a sitar e as cordas entram numa sessão de pergunta / resposta. Apesar de se notar mais a presença da Índia (por razões óbvias da força do instrumento), a beleza deste disco reside precisamente no confronto entre as duas culturas musicais. Um disco interessante, reforçado pela beleza do artwork, numa editora (a Kning Disk) que ameaça tornar-se num dos mais interessantes selos do ano. E este é apenas mais um forte argumento.