Ceda-se margem de dĂşvida Ă s suspeitas e teorias da conspiração que possam procurar provar a existĂŞncia de elos vários entre as tiranias e excentricidades dos Imperadores Romanos e as duplas de bateria e guitarra ou baixo que montam a espinha dorsal ao cadáver rock com a intenção de descaracterizá-lo em tĂ´mbola que sorteia marcações rĂtmicas e riffs rugosos a uma velocidade impossĂvel de se acompanhar. AtĂ© porque contribui para adensar as suspeitas a ideia de que a piromania de Nero nĂŁo distaria assim tanto do frenesim inflamável que desencadeia a sessĂŁo de cabeçada que Ă© A Journey Through Roman’s Empire, segundo baptismo de fogo a cargo de uns Athletic Automaton que, depois da aliança aos Aids Wolf e do split com os Made in Mexico, procuram a custo a sua porção de terreno nesse antro de barbárie “decibĂ©lica” que Ă© o catálogo da Skin Graft.
Numa fábula que explique Ă s criancinhas a situação vivida no plano de duos ruidosos oriundos de Providence, no estado de Rhode Island, os Athletic Automaton orgulham-se atĂ© de ser a tartaruga se os Lightning Bolt forem a lebre (e alcalinos nesse disfarce). O ex-Arab on Radar Steve Mattos e Patrick Crump conhecem o melhor uso para a fricção que pode produzir uma carapaça de feedback ao ser raspada na antĂtese da estrutura convencional de canção - obtĂŞm o tal atrito fazendo excelente proveito de um concubinato que promove a fornicação entre a bateria confiante do seu detonar energĂ©tico e uma guitarra geralmente intransigente na sua vontade de ser a metade que mais estrilha, mas cedente nas pistas declaradas que cede para posterior perseguição da sua parceira (com direito a orgasmo e pĂłs-clĂmax em “The Gladiators Sandal Fight”). A juntar a isso, a natureza mais trĂ´pega da tartaruga consta tambĂ©m de uma “Hands Without Feet” que dilata o aspecto distorcido de um riff atĂ© ao ponto deste soar como um acorde poderoso que na sua infância caiu num caldeirĂŁo de Jack Daniels.
Remate-se a sina ao digressivo e agressivo A Journey Through Roman’s Empire recuperando-se a analogia que, no primeiro parágrafo, procurava aproximar estas duplas dos mais infames Imperadores da velha Roma. Os Athletic Automaton, tal como CĂ©sar, mais blindam o punho de ferro quando descobrem oposição Ă sua vontade. O aparato trágico Ă© o mesmo, sendo que a sanidade e silĂŞncio sĂŁo as conspirações que procuram eliminar os primeiros. Fica esclarecido que podem ser igualmente Ă©picas as batalhas travadas em condomĂnio fechado. A tal viagem que propõe este segundo disco dos Athletic Automaton Ă© o convite ao convĂvio (quase) eminente com a poesia pagĂŁ que ainda se pode descobrir ao rock tornado conflito campal.