Tom Recchion já anda nestas andanças há muitos anos, apesar do seu nome nĂŁo ser propriamente reconhecĂvel. Foi membro da Los Angeles Free Music Society, colaborou com nomes como David Toop, Christian Marclay, Oren Ambarchi, Keiji Haino, Max Eastley (que atĂ© o assiste precisamente neste disco) e os Smegma, entre tantos outros. É ainda parte integrante de um sem nĂşmero de projectos. Está por isso numa posição privilegiada para se aventurar em explorações sĂłnicas deste gĂ©nero – está documentado e democraticamente informado. Sweetly Doing Nothing Ă© o seu primeiro disco a solo depois do lançamento de I Love My Organ, pela Birdman, em 2004.
“The Elephant God” desenvolve-se lentamente, com um ritmo prĂłprio – ponderado e prudente. Vai arrastando consigo rastos de som e interferĂŞncias várias. Pouco depois do inĂcio da viagem já as texturas adquiriram contornos hipnĂłticos – torna-se difĂcil sair do turbilhĂŁo. Cedo se torna evidente que Sweetly Doing Nothing Ă© um disco para ser consumido com paciĂŞncia e com o volume de som em cima, para que seja possĂvel absorver os mini sons que aqui se exploram. Apesar do tĂtulo, “Jazz 10,000 a.d.” pretende segurar o tĂtulo de jazz futurista. Explora teclados e percussĂŁo, sons familiares, electrĂłnica, pedaços de som que parecem retirados de explorações espaciais – mas que podiam ser ao mesmo tempo bandas sonoras de filmes dos anos 50. Impressionante.
“Oozings” leva o disco para outro patamar. As explorações tornam-se mais complexas e de difĂcil absorção. A electrĂłnica torna-se mais agressiva e abstracta. “The Crazy Beat”, logo a seguir, sublinha essa mudança de caminho, introduzindo vozes e estalidos, assumindo-se claramente no final como mĂşsica noise. “Ho ho 66” dispara o jazz em loop com a companhia mais uma vez de teclados e, desta vez, de pássaros. Quando o jazz desaparece ficamos com uma espĂ©cie de cenário desolador preenchido pelo chilrear das aves e paisagens desconhecidas. A esperança renova-se logo a seguir com "Underwater girls", luxuriosa visita ao fundo do mar num final de disco belĂssimo. Sweetly Doing Nothing Ă©, como se pode ver, uma caixinha de surpresas; uma que, a cada audição, traz novas e novas descobertas.