Antes que outro Colectivo nos traga novidades silvestres em Setembro, existe semelhante formação apostada em descrever, à sua maneira microscópica, o que se vai passando num reino animal onde todos os pássaros eram anarquistas - bem ao contrário do minucioso núcleo europeu de músicos formado por Stefan Schneider (conhecido pelo desempenho nos To Rococo Rot), Barbara Morgenstern (senhora da pop paisagÃstica alemã) e Paul Wirkus (o polaco que, ainda recentemente, dava um passo glitch maior que a perna da imaginação com um pouco conseguido disco na Staubgold). Juntos formam um September Collective que não quer para si o prefixo super e o foco de luz que esse implica, mas que, a partir dos seus florescimentos paralelos e cruzados, forma vitaminas capazes de garantir a constatação de que a união faz realmente a força.
Contudo, não se espere de All the Birds Were Anarchists uma revelação pela via da força ou atitude. Não é essa a natureza de um disco onde a pop é uma miragem localizada num inalcançável subsolo até onde escavam esperançosos os sintetizadores alinhados em táctica de suave perfuração. Um disco semelhante a Pause de Four Tet no seu remexer electrónico de um som de propriedades térreas (granulares e orgânicas), mas infinitamente mais impenetrável e estranho nas imagens que sugere (como recompensa pelo esforço). Sem nunca largar o tilintar da sua repetição inicial, “Pausenbandâ€, por exemplo, chega a parecer-se com um exercÃcio Stomp a cargo de um conjunto de térmitas de metal que interceptaram uma garrafa vazia de refrigerante ao descer por um canal aquático. A anarquia dos pássaros inspira a coincidentes interpretações.
Como esse, existem outros exercÃcios que tornam All the Birds Were Anarchists num diário aberto ao registo de fenómenos conforme interpretados por alguém que se afeiçoou à dimensão de um microcosmos, sem se tornar amnésico das aptidões adquiridas cá fora. É por isso que o piano passo-ante-passo de Morgenstern avança nas músicas como alguém completamente pudico que, pela primeira vez, dá por si numa praia de nudistas. A partir das pistas intricadas que oferece, é constatável que a adaptação do September Collective ao meio que projectam musicalmente tenha sido tão gradual e cheia de quebra-cabeças como sugere o disco daà resultante. Um inadaptado que desconhece o caminho de regresso a casa é forçosamente um anarquista.