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Julianna Barwick Sanguine

2007


Poucos segundos após o inicio de Sanguine chama à atenção a voz celestial de Julianna Barwick, uma perfeita anónima. Com a primeira experiência é possível perceber os terrenos por onde este disco se movimenta: paisagens etéreas preenchidas por vozes igualmente puras. A proposta repete-se ao longo de nove episódios curtos e semelhantes entre si, donos de uma capacidade melódica superior e de uma quase espiritualidade pouco corpórea. Alguns destes capítulos são mesmo de uma beleza extrema, muito por culpa da voz de quem assina o disco. Apesar de não ser nada de especialmente original, as explorações de Julianna Barwick funcionam especialmente bem.

Julianna Barwick admite a sua paixão e afinidade pelos sons dos coros de vozes, algo que explica na perfeição a quase obsessão pela qual este disco, em edição de autor, se orienta. Poder-se-ia dizer que Sanguine faz lembrar por vezes os Sigur Rós, mas a afirmação não deixaria de ser injusta com o trabalho de Julianna Barwick, que não parece claramente influenciado pelos islandeses. As explorações são fruto de experimentação, de loops, de um aparente cuidado na criação de paisagens. “UNT.8â€, a mais distinta do grupo das primeiras nove experiências, é um momento de especial inspiração.

O último momento numerado, “UNT.9â€, tem como base beatboxing, que é ponto de partida para tantas outras vozes. “Dancing with friendsâ€, talvez inspirada pelo título, é marcadamente celebratória e aberta, positivamente luminosa. É por isso um tema indubitavelmente afirmativo num disco que caminha quase sempre num limbo entre o que é cintilante e o que taciturno (elogio). Feitas as contas, Sanguine é um disco de vozes que chama para si uma porção significativa de beleza. Algo que definitivamente merece o desgaste do botão “repeatâ€.


André Gomes
andregomes@bodyspace.net
03/09/2007